Um conteúdo pode ter marca e ser uma carta de amor?
A uma pergunta direta, uma resposta simples: Sim, um conteúdo editorialmente relevante pode ter marca.
Quando lemos artigos na Internet, abrimos os jornais, vemos o noticiário da noite, ouvimos rádio. Em todos estes meios há, todos os dias, notícias com referências a marcas.
Se um artigo fala de marca e não traz valor, dificilmente irá criar engagement. É preciso acrescentar algo que diga respeito às pessoas.
A grande questão que se coloca, já o referi em textos anteriores, é a dúvida que se levanta sobre a existência de um patrocinador para esse conteúdo e onde fica a fronteira da isenção.
Vamos ver. Quando se escreve num jornal económico, por exemplo, é impossível deixar as marcas de fora. Empresa X fatura Y Milhões de euros. Ou, empresa Z lança novo telemóvel. Será possível escrever estes artigos sem referir marcas? E se as empresas estiverem dispostas a pagar por estes artigos, o jornal e jornalista perdem credibilidade?
Não perdem mas no contexto de mercado atual acabam por deixar no ar muitas dúvidas. Mas, pensando melhor, não existem já dúvidas sobre a isenção dos media?
A melhor opção será adoptar uma estratégia clara para os leitores. A identificação do artigo como patrocinado, havendo ou não referência a marca no texto, é uma forma de manter as coisas a um nível desejável de clareza.
Se um artigo fala de marca e não traz valor, dificilmente irá criar engagement. É preciso acrescentar algo que diga respeito às pessoas.
No mercado português as coisas ainda estão num nível primário, andamos a desbravar caminho, a travar lutas contra os preconceitos e receios. Mas estamos a avançar.
Do lado editorial temos sido obrigados a pensar mais no conteúdo. Como acrescentar valor. Como aplicar um bom storytelling? Ganham os conteúdos, ganham os leitores.
Decidi, num dos últimos artigos que publiquei adoptar uma escrita mais pessoal. Não por necessidade de protagonismo mas porque o tema o exigia. Afinal, tinha de escrever sobre um produto para pintar cabelos. Nunca pintei e os produtos de mercado raramente se dirigem ao público masculino.
De um tema que parecia ter uma dificuldade extrema acabei por contar uma história, a minha história, a minha experiência. O resultado foi uma espécie de carta de amor. Para o público alvo, acabou por ser adequada. Mas, acima de tudo, genuína.
Fiquei incomodado por escrever algo sabendo que a marca estava a pagar por isso? Sim, no princípio. Mas acabei por escrever o que me apeteceu, sem intervenção da marca que, já agora, gostou da abordagem.