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Bloguer, é uma profissão?

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Os blogues, os bloguers, a blogosfera. Pelo menos uma destas palavras, senão todas, porque vivem num conjunto, já lhe passaram pela frente. Nos últimos anos, principalmente desde que começou a haver autores de blogues a ganhar dinheiro com os posts que publicam, e com o crescimento exponencial da presença da Internet no dia a dia, muitos decidiram apostar neste formato para tentar monetizar a escrita.

 

Como quase tudo, começou de forma gradual. Os pioneiros, com ajuda da própria comunicação social que a determinada altura começou a fazer notícia com alguns blogues, conquistaram uma presença valiosa no mercado de conteúdos. É incontornável, no panorama português, falar da Pipoca mais Doce (começou com um blogue, hoje é muito mais que isto), do Casal Mistério, entre outros blogues tipicamente mais apetecíveis para os anunciantes, pelo reconhecimento.

 

O mundo dos blogues cresceu, sem regras, ou melhor, com as regras da "comunidade". E, apesar da abertura que a Internet permite, é uma comunidade um pouco "fechada", uma espécie de clube.

Foi a Web 2.0, agora é a Internet das Coisas. Se, por estarem a ler um blogue, esperam que este texto seja mais um a colocar estas plataformas no topo da pirâmide estão, em parte, errados e podem mesmo ficar desiludidos. Nem todos os blogues merecem destaque, mesmo alguns dos mais conhecidos, pela falta de qualidade e criatividade dos conteúdos que apresentam.

 

Muitos deles nem sequer contribuem para uma discussão de ideias!

 

Lê quem quer, dirão de imediato alguns. E com razão. Mesmo os que estão a ler este texto e já começaram a espumar! Afinal, os leitores têm aquilo que exigem e os patrocinadores só são enganados quando tomam a decisão de investimento apenas por números e ignoram a falta (para não dizer total ausência) de qualidade do conteúdo. Mas têm na base uma figura pública e/ou apresentam números de acessos sonantes, muitas vezes tráfego comprado. Além disso, são blogues "agenciados"... Já vamos ao tema das agências!

 

O conteúdo relevante continua a ser a melhor forma de envolver os consumidores. Esta é uma afirmação com muitos anos e atualmente, no digital, continua a ser uma verdade cada vez maior.

 

O negócio dos bloguers tem crescido em todo o mundo mas, a bem da clareza, é preciso haver regras. O consumidor, as pessoas, o mercado de conteúdos, têm direito a ser protegidos. A ideia de que cada um tem de saber o que faz, quando lê um texto num blogue, é errada. Muitas vezes, as pessoas são levadas até esses blogues através de destaques e posts em sites credíveis com bastante tráfego e nas redes sociais. E, na maior parte das vezes, levam com um texto altamente comercial...

 

Ser bloguer, ainda não é profissão. Para ser, tem de respeitar regras, como todas as outras profissões. Uma coisa é ter um blogue pessoal, uma espécie de diário da sua vida, outra será publicar artigos com ambição editorial e jornalística ou pagos por determinada marca para serem redigidos. As marcas têm optado pelos blogues para apostar em Content Marketing, em detrimento de investimentos feitos nos media. 

 

Estão no caminho certo, os blogues devem fazer parte da estratégia, mas as marcas precisam de apostar mais na qualidade da escrita, na relevância do conteúdo, do que nos números e no barómetro da figura pública, dos chamados influenciadores.

 

Quando estes "bloguers" tentam fazer a cobertura de eventos, em competição com os órgãos de comunicação social, estão a entrar no espaço de profissionais que respondem a regras. E este "pormenor" é crucial para a discussão!

 

Em Portugal, o tema foi levantado pela ERC - Entidade Reguladora para a Comunicação Social, com uma deliberação que recomenda que haja uma distinção entre blogues de cariz pessoal e aqueles que se assemelham a órgãos de comunicação social, criados por jornalistas, ou com ambições a tal.

 

É sabido que muitos blogues solicitam acreditações para ter acesso aos espaços de imprensa de determinados eventos, e têm sido concedidos. O problema, claro está, não é dos bloguers que pedem o acesso, mas de quem lhes atribui as acreditações, permitindo que circulem nos mesmos espaços dos jornalistas que têm regras e uma deontologia a cumprir.

 

O que a ERC defende é que no caso destes blogues, haja um estatuto equiparado a jornalista. Sujeito a regras idênticas às que o jornalista de um OCS está sujeito. Parece justo que as regras sejam para todos e nem sequer devem ser os consumidores a ter de lidar com essa distinção. Porque, não havendo regras, como e a quem pode um consumidor queixar-se?

Como jornalista, e acreditando que haverá uma clarificação para separar o trigo do joio na blogoesfera, aceito que também existam regras.

Além disso, a ERC lançou também a questão da obrigatoriedade de referência aos posts patrocinados que, para serem escritos num blogue, foram pagos por qualquer entidade em forma de patrocínio. É isto que se passa noutros países, como em França, por exemplo. É isto que os órgãos de comunicação social são obrigados a fazer.

 

Não parece errada a intervenção da ERC, mas a discussão será acesa. Afinal, as regras são um dos pilares da Democracia e não uma obstrução à Liberdade e Expressão.

 

Os bloguers que se apresentam como tal, assumindo que essa é uma das suas "profissões", até a bem dessa profissão, devem aceitar a existência de regras. Devem aceitar a transparência e a distinção com blogues menos "sérios".

 

Quanto aos blogues e bloguers assumidos, creio que as regras irão ajudar a clarificar e a cimentar uma profissão de futuro. Se não querem ser profissionais, e apenas escrever um diário pessoal, sem fins comerciais, serão outra coisa qualquer na vida, mas não bloguer!

Já agora, talvez o termo a usar deva ser bloguista, como está inscrito no Grande Dicionário da Língua Portuguesa. Além de ficar mais próximo de jornalista, é o termo adoptado oficialmente pela língua Portuguesa! Tenho algumas dúvidas sobre o tema, pessoalmente, prefiro bloguer (escrito à portuguesa)...

 

O Content Marketing

As regras para os orgãos de comunicação social são bem claras. Neste novo contexto do Content Marketing, tal como foi adotado a nível internacional pelos grandes títulos, como o New York Times, as regras também devem ser cumpridas pelos blogues, referindo que determinado artigo foi patrocinado?

 

A lei é clara mas abre espaço a determinadas interpretações. O caso dos OCS que se dedicam a escrever sobre tecnologia ou automóveis, por exemplo, falam de marcas e produto em todos os artigos escritos. Mesmo quando não são pagos para o fazer. E aqui surge o primeiro impacto: se a marca pagar, o artigo será menos sério?

 

A regra a aplicar, diz o bom senso, será sempre a da isenção do jornalista, o argumento da escolha editorial. O jornalista deve escrever com liberdade, sem intervenção ou manipulação. Tanto espaço para debate... Será tema para outra conversa, mas questiono apenas o seguinte: quem controla o que um diretor, ou editor, pede a um jornalista para escrever. Mesmo suspeitando que pode estar a fazer "um frete", o jornalista nega-se a escrever?

 

E podem estar a questionar, e bem: então, se é assim, quer dizer que os jornalistas também desrespeitam as regras? Sim, há quem o faça, mas pelo menos há regras e podem ser punidos quando não as cumprem.

 

O que lhe incute (ou deveria incutir) credibilidade e a tal isenção de análise, será o nome do OCS e do jornalista detentor de uma carteira profissional.

 

E se, no meu blogue, decidir falar de uma marca, por qualquer razão, mesmo que não me paguem nada por isso? Chama-se liberdade de expressão, todos o podem fazer. Há quem o faça apenas para se queixar de um serviço que correu mal, ou que correu muito bem. Há quem op faça para dizer que a marca se recusou a ceder um produto para testar... As redes sociais têm esse poder. Ou, como fiz no último post neste blogue, escrever sobre a criatividade de um anúncio de uma marca ou sobre este novo conceito de churrasqueira de bairro. (A título de esclarecimento, ninguém me pagou para escrever isto.) 

 

No entanto, tal como escrevi há uns meses: não me choca escrever uma história que é paga, patrocinada por uma marca. Seja no meu blogue, seja num OCS, mesmo que tenha de citar marca, desde que me sinta confortável com o que escrevo. Mesmo que seja para escrever uma experiência como consumidor de um produto. Estou a relatar, de forma profissional, uma experiência vivida.

 

Será diferente se tiver de escrever algo com o qual não concordo por ser mentira ou se considerar que posso influenciar de forma negativa uma pessoa. É, também, uma questão de consciência ou deontológica. Mas, como jornalista, e acreditando que haverá uma clarificação para separar o trigo do joio na blogoesfera, aceito que também existam regras. Afinal, desde que seja claro para todos, esta será uma forma de ganhar dinheiro com o conteúdo que chega aos leitores de forma gratuita.

 

Uma profissão com futuro e o papel das agências

Atualmente, depois da loucura que se tem vivido com os posts pagos por marcas em blogues de maior dimensão - que fizeram o seu caminho com uma boa estratégia de marketing, alavancados pelos órgãos de comunicação social que, ao falar deles lhes deram credibilidade - os utilizadores começam já a olhar para alguns destes posts com desconfiança. Basta estar atento a alguns comentários nesses blogues onde são os próprios leitores a disponibilizar o link do conteúdo original. Muitos deles carecem de qualidade, apesar de serem bem pagos.

 

Durante o ClickSummit, no painel Agenciamento de Celebridades Digitais, Francisco Gautier, da Blog Agency, revelou, perante o espanto da audiência (manifestado através de tweets e de burburinho), que há figuras públicas a ganhar entre 10 mil  a 20 mil euros/mês com o blogue e que, muitos deles, nem sequer escrevem o que lá é publicado.

E coloco aqui dois dos tweets que Pedro Rebelo publicou no momento e representam o espanto da audiência!

 

 

 

Como é óbvio, esta prevaricação do mercado, do mundo dos blogues, tem um impacto bastante negativo para quem tenta vingar com a aposta em conteúdo original. Agregar tem o seu mérito, mas convenhamos, se todos formos agregadores, se são os aregadores a ganhar mais dinheiro do que os produtores do conteúdo original, com o tempo, deixará de haver conteúdo!

 

Por isso, uma clarificação irá também ajudar a separar, do ponto de vista qualitativo, os blogues que podem ter algo de útil daqueles que apenas servem de repositório, de cópias de conteúdo alheio. De traduções de textos alheios, de blogues que são uma espécie de agregadores de conteúdo de terceiros. Mas este tema será ainda mais difícil de debater pois o papel de curadoria e agregação também tem a sua utilidade.

 

Para os que recusam esta discussão da existência de regras, se não querem ser profissionais, e apenas escrever um diário pessoal, sem fins comerciais, serão outra coisa qualquer na vida, mas não bloguer (bloguista)!

 

Serão apenas pessoas que gostam de colocar o seu diário na Internet, em vez de o deixarem trancado com cadeado. E aí sim, sem presunção, permitir que aquilo que escrevem seja escrutinado pela comunidade. Mas, pelo menos, são os autores que escrevem e interagem com a comunidade!

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