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O Estado é a solução para resolver o estado do jornalismo?

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Não. O Estado, ao contrário do que questiona, com reservas, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, não é a solução para salvar o jornalismo. É, até, perigoso. O próprio exemplo que o Presidente apresenta (o porte pago) para a imprensa regional, é um dos factos que sustentam esta minha posição. Existe uma enorme dependência do jornalismo regional dos poderes políticos locais.

 

E, obviamente, olhando para aquilo que está a suceder por esse mundo fora, a mão do Estado no jornalismo corre o sério risco de ficar demasiado pesada para a Liberdade de Imprensa e Democracia.

 

Há muitos que continuam a culpar a estratégia da gratuitidade do jornalismo no online. Talvez seja errado e presunçoso afirmar que não. Mas o contrário também é verdade. O maior perigo está no mesmo local onde se poderá encontrar a solução: nos jornalistas.

 

Já o afirmo há muito, acompanhei, desde o início, a euforia que se viveu em Portugal, por dentro, e lá fora, pelo que se foi lendo e visto. O problema maior esteve sempre do lado dos jornalistas que se colocaram à margem do desenvolvimento. Permitiram que as coisas evoluíssem sem a sua intervenção. É um pouco semelhante às pessoas que se recusam a ir votar por discordarem das políticas. Esquecem-se que estão a abdicar do maior poder que o 25 de Abril trouxe a Portugal: o direito a intervir, votar, a contribuir para a escolha e para a solução.

 

Deixar nas mãos (e no voto) dos outros a decisão, retira-nos o poder de queixume tardio. Tal como escreve no Público a minha colega  de curso, Sónia Sapage, "o quarto poder está frustrado, como antevia, em livro, o meu (nosso) antigo professor de Teoria da Notícia Nelson Traquina". Obviamente, concordo. O jornalista não trabalha de graça!

 

Mas eu recordo que, durante o mesmo curso, o professor de Mutação dos Media, Pinto Balsemão, já falava nessa época do jornalista de aeroporto, com capacidade de fazer texto, fotos e vídeo. Foi isso que fiz desde que entrei no mundo da Internet, em 2003. Tracei caminhos, fiz descobertas, passei conhecimento e fui, com consciência, criticado por ceder a esse modo de trabalho. Referindo novamente Rafael Bordalo Pinheiro, a Retórica Parlamentar serve de pouco. É preciso agir.

 

Afinal, diziam alguns quando me viam chegar a uma conferência de imprensa ou em reportagem com tripé, câmara de vídeo e fotografia, microfones, computador para fazer diretos, "estás a roubar o trabalho dos camaradas". Não era assim, não é assim! É preciso adaptar, evoluir e lutar para que o jornalismo se mantenha, na sua essência. Ficar de fora desta evolução é viver na pré-história e esquecer que o problema pode estar antes no formato comumente aceite há anos, com o controlo dos media por grandes grupos económicos.

 

O próprio Público, como se sabe, é deficitário e só a vontade de Belmiro de Azevedo o manteve durante tantos anos. Será que os herdeiros terão a mesma vontade de continuar a sustentar um projeto deficitário (que para eles, empresários, é visto como produto)?

 

O Jornalismo tem de ser dos jornalistas. Independente de poderes de qualquer tipo. Um dia, porque tenho o projeto em espera, talvez seja a altura de colocar em livro muito do que vi nos últimos anos. A forma ligeira como se "abatem" jornalistas e projetos, ou promovem outros e se mantém nas direções sempre os mesmos. Porque será?

 

Mas o foco hoje está na preocupação de Marcelo Rebelo de Sousa. Legítima e sustentada no mesmo dia em que jornais de referência fizeram eco daquilo que é uma verdadeira ameaça ao jornalismo.

 

Os jornalistas permitiram estar a concorrer no mesmo espaço com Youtubers, sites de mentiras (porque recuso juntar na mesma designação mentira e notícia, são palavras incompatíveis).

 

Os jornalistas viram, ao longo dos anos, o camarada do lado ser perseguido e afastaram-se dele como se tivesse lepra. Assistiram, com medo, à limpeza que tem sido feita no jornalismo. E continua. E, quando digo isto, é com a consciência que cada um, no final do mês, precisa de pagar as faturas, alimentar os filhos (que já tiveram tarde porque um jornalista não tem horários e ganha uma miséria). A mim, tentaram despedir-me por fazer frente às pessoas que decidiam no jornal onde estava porque estavam a falhar o pagamento de salários a duas estagiárias. Obviamente, a razão estava do meu lado, fui perseguido, ameaçado, tentaram de tudo e ninguém se impôs para me defender. Obviamente, venci, saí, mas indemnizado. Chegou? Não, porque estas injustiças não têm preço, mas é melhor do que nada. Quem o fez, o protagonista desta atrocidade contra a Liberdade e direitos, dirige atualmente um dos principais jornais portugueses.

 

Mas, então, onde está o Quarto Poder? Perdeu-se, poderão dizer; está aí, afirmo com toda a certeza e confiança na qualidade dos jornalistas que ainda querem resistir, mas precisam do seu salário.

 

A solução ainda virá, o medo que os jornais fizeram ecoar por causa do Artigo 11 e Artigo 13, e que se debruça sobre os direitos de autor, deve ser olhado com atenção. O problema não está em amplificar os receios de um youtuber que, atiçado pelo Google, aproveita o poder que tem para lançar o pânico. Não, a Internet não vai acabar, a mama, sim!

 

E como citei a minha colega Sónia Sapage, volto a pegar no título dela "Queres Fiado? Toma". para dizer que aqui não se trata de fiar. O problema não está se é ou não gratuito, está na falta de confiança que os leitores têm no jornalismo, no total descrédito dos jornalistas. Porque, afinal, aquilo que vivemos hoje com a Internet é que navegamos diariamente numa grande lixeira. Todos e cada um de nós encontra lá algo que diz ser útil em determinado momento.

 

Mas já e tempo de remover o lixo, filtrar, deitar fora o que não presta, queimar, reciclar. Nessa altura, no lugar onde está a lixeira, haverá espaço para nascerem novas ideias, válidas e que geram receitas aos seus criadores.

 

Para quem ainda não percebeu, o Youtube enviou emails a dizer que os canais correm o risco de encerrar por causa dos direitos de autor. Não, não será isso que vai acontecer. O problema é que a Google terá de pagar o devido valor pelos milhões que tem ganho com o trabalho dos outros, a custo zero.

Nota final: Apostei numa ideia, o Faktual.pt é um projecto que pretendo seja de todos os jornalistas, que ajudem a fazê-lo crescer, que o tornem num projecto que seja capaz de gerar salários dignos. Não fiz tudo, apenas coloquei em prática aquilo que está ao meu alcance. O meu contributo, também financeiro, e apelo à união. Se recusei propostas de investidores interessados? Sim, recusei. E se isso for o motivo para falhar, então sei que fiz tudo o que tinha de ser feito.

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