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Económico abre a porta ao princípio do fim dos jornais em papel

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A capa da última edição em papel do Diário Económico

 

O Diário Económico coloca esta sexta-feira nas bancas a última edição em papel. A partir da próxima semana o Económico irá concentrar esforços apenas nas edições online e no canal de televisão. O Administrador do grupo, Gonçalo Faria de Carvalho, anunciou que, a partir de segunda-feira, a edição em papel estaria suspensa.

 

A decisão, comunicada aos trabalhadores ao final da tarde de quinta-feira por Gonçalo Faria de Carvalho, visivelmente emocionado, tem por base o insucesso do objetivo de venda a um novo investidor. 

 

As graves dificuldades económicas em que o grupo se encontrava, estando os trabalhadores com salários em atraso há vários meses, forçam a decisão do encerramento da versão em papel. Algo que há muito se espera no mundo do jornalismo pois, com o atual cenário e a fuga dos leitores para o online, as vendas e o investimento publicitário têm caído a pique, de forma generalizada, em Portugal mas também a nível internacional.

Com 138 trabalhadores, sendo que a redação é composta por apenas 31 jornalistas, o processo de recuperação deverá passar ainda por uma redução da massa salarial.

Com esta decisão, o administrador do grupo Ongoing, deixou por esclarecer se iria declarar falência da ST&SF, empresa do grupo que detém o Económico e que recentemente apresentou um Processo Especial de Revitalização. 

 

Recorde-se que, no iníco de março, o El País, o maior jornal espanhol, anunciou o fim do papel, que será feito de forma mais suave, ficando a marca focada no digital. De forma geral, mesmo os grandes grupos também estão a sofrer com esta crise da publicidade, tal como ficou claro pelas declarações de Rosa Cullell, responsável da Media Capital, que lançou o desafio a Francisco Pedro Balsemão, para a criação de um algoritmo concorrente ao dos players internacionais. Isto, durante o debate sobre o futuro da comunicação promovido pela IPG Mediabrands.

 

Esta medida, de manter apenas a versão online, tinha já sido tomada em relação à versão brasileira do Económico (Brasil Econômico), em julho de 2015. Este jornal foi lançado em 2009, pela Ejesa, empresa participada pela Ongoing.

 

Ao deixar as bancas, o espaço dos jornais de economia fica entregue ao Jornal de Negócios, do grupo Cofina.

De recordar que o Jornal de Negócios começou por ser apenas um jornal digital e só mais tarde avançou para a edição em papel, primeiro semanal e depois diária. Uma decisão tomada devido ao espaço existente, graças à necessidade de pluralidade.

 

O Diário Económico foi lançado a 30 de Outubro de 1989, sob a direcção de Jaime Antunes, Silvério do Canto e Goulart Machado. Ao fim de quase 27 anos, deixa as bancas, com Raul Vaz como diretor, que está demissionário desde a semana passada.

 

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Tal como se pode ler no título de manchete da primeira edição do Brasil Econômico, a citação de Lula da Silva, que hoje está nas bocas do mundo pelas suspeitas de corrupção, "Quando nasce um jornal a democracia se fortalece". O oposto também é verdade!

 

Apesar desta decisão, que vai reduzir substancialmente os custos de produção, a empresa ainda precisa de ser recuperada, desconhecendo-se ainda as medidas de gestão a aplicar. A direção interina ficará a cargo de jornalistas do Económico.

 

De acordo com a comunicação feita aos trabalhadores, Gonçalo Faria de Carvalho assegura que o regresso da edição em papel não está descartada, caso a recuperação da empresa seja um sucesso e o mercado volte a recuperar.

 

Com 138 trabalhadores, sendo que a redação é composta por apenas 31 jornalistas, o processo de recuperação deverá passar ainda por uma redução da massa salarial.

 

O dono da Ongoing, Nuno Vasconcellos, foi recentemente criticado pelos trabalhadores depois de colocar no Facebook, as fotos de um jantar de salmão. De acordo com o site institucional da Ongoing, "em 1989, o grupo integrava 25 empresas, empregava 1.500 pessoas e tinha vendas superiores a 20 milhões de contos (cerca de 100 milhões de euros), o que representava 0,2 por cento do produto interno bruto (PIB) português".

Salvar o Diário Económico é também defender a pluralidade e democracia

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Perante a demissão da direção do Diário Económico, o jornal, Televisão e site, ficam numa situação ainda mais complexa. Este sinal da direção, provocou um forte abalo na redação que sente a queda do projeto a qualquer momento. Sem receber salários há mais de dois meses, os cerca de 140 trabalhadores, avançam para a greve. Não porque desistem, porque continuam a trabalhar com o máximo profissionalismo, mas porque têm de tomar alguma forma de pressão para a opinião pública, para os empresários, para os anunciantes.

 

Os jornalistas, em conjunto com os restantes trabalhadores da empresa (140 no total), têm tentado angariar, junto da massa empresarial, consenso para que, através da publicidade nos meios do Económico, se consiga manter o projeto. O último gesto foi esta carta aberta divulgada nas redes sociais.

 

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A solução encontrada pela administração de Gonçalo Carvalho foi a apresentação de um PER, Processo Especial de Revitalização, que impede, durante um determinado período, que os credores forcem a falência da empresa. Mas é uma solução de recurso, não corresponde a uma entrada de dinheiro que permita fazer face aos compromissos salariais e de dívida.

 

Os media, a nível mundial, estão a sofrer uma grave crise. Financeira e de identidade. A Internet, o mundo digital, as redes sociais, os novos hábitos de consumo da informação, estão a obrigar os media tradicionais a uma adaptação. Ou melhor, a uma reinvenção.

 

A "democracia" da Internet provocou a queda abrupta do consumo do jornalismo em papel, da própria televisão. Qual será a receita de sucesso? Podemos abordar alguns exemplos, espalhados pelo mundo, de pequenas (grandes?) conquistas, como o formato buzzfeed (erradamente considerado um meio de comunicação social) ou em Portugal, onde o Observador se apresenta como "o modelo" do novo jornalismo.

A tendência a nível internacional é o foco no digital, encerrando a distribuição em papel. 

Quanto aos formatos buzzfeed, creio que pouco mais há a dizer a não ser "vídeos de gatinhos", e associar o sucesso deste projetos ao que têm programas como o Big Brother ou a Quinta das Celebridades. O fenómeno é o mesmo!

 

Quanto ao Observador, é de aplaudir a forma como o projeto surgiu e se impôe no mercado. Infelizmente, não tenho dados que permitam avaliar mais do que aquilo que a Marketest revela. O mercado de publicidade está agradado com os cerca de 30 milhões de pageviews do projeto inaugurado por David Dinis, e este tem vingado.

 

O que tem o observador de inovador em relação a um qualquer site (falemos dos que têm um design e usabilidade mais moderno, relevante, mas não crucial) de um outro meio de comunicação social?

 

Tem um foco exclusivo no digital e uma excelente estratégia de marketing e divulgação dos seus conteúdos. Aliado, claro, a uma equipa comercial focada. Não tem mais, nem melhor conteúdo que alguns meios tradicionais, não tem melhores nem piores jornalistas. 

 

Mas voltemos ao tema concreto que dá mote ao título deste artigo.

Com as contas completamente descontroladas, o Diário Económico sofre porque não consegue fazer face à saída de mão-de-obra qualificada, porque tem os trabalhadores no limite, com salários em atraso, porque a administração não tem suporte, porque a direção se demitiu.

 

Os erros de gestão dos últimos anos, a falta de uma aposta forte no digital (apesar de serem líderes no segmento económico), faz com que cheguem a esta fase na incerteza da continuidade. Os custos têm de baixar, as receitas de aumentar. É o básico de qualquer negócio. Mas, no caso do Diário Económico (que inclui a edição em papel, a televisão e o site), o dinheiro que entra é amplamente insuficiente para fazer face às despesas.

De acordo com os dados da APCT, cerca de 2000 assinaturas e mais de 3 mil exemplares vendidos em banca, pouco mais dará do que pagar os custos com impressão e distribiuição.

 

Cortar na massa salarial, ou seja, despedir pessoas, será a única opção numa empresa que está em risco de declarar falência. 

 

Isto terá de acontecer, seja com a atual administração, seja pelas mãos da administração que venha a comprar a empresa. A questão é que, chegados a março de 2016, e após, pelo menos, uma ano de tentativa de venda, nenhuma proposta chega a ser concretizada ou é aceite pela actual administração. Além disso, falta dinheiro para as rescisões necessárias!

 

O embróglio, de acordo com aquilo que circula nas notícias, está no passivo da empresa. Ninguém quer assumir as dívidas passadas e a administração não quer ficar com elas às costas.

 

Mas, mais uma vez, qual a solução?

Seria óptimo ter a receita para este projeto mas, sem conhecer a fundo as contas, é difícil delinear as medidas a aplicar. Mesmo assim, arrisco!

 

A redução da força de trabalho não pode ocorrer na redação onde os jornalistas são já insuficientes para os três produtos. Ao nível da televisão, principalmente, a decisão terá de ser na continuidade, ou no encerramento. O canal tem apenas as receitas dos operadores, que pouco mais paga do que a operação. E, mesmo assim, a meia dúzia de profissionais que fazem o canal estar no ar, estão sem receber salário, tal como os outros.

No caso da televisão, a licença do canal poderá estar em risco em caso de uma interrupção na emissão.

 

Fazem mal os trabalhadores em deixar de trabalhar, tendo em conta que não recebem? Não, têm todo o direito de o fazer. A questão é: de que adianta deixar a empresa ir para falência? Legalmente, os trabalhadores terão direito a candidatar-se ao subsídeo de desemprego, algo que não será possível de outra forma uma vez que a Ongoing já ocupou as quotas a que tem direito para estes casos.

 

Por isso, talvez seja este o momento dos empresários portugueses, dos que têm capacidade de investimento, assumirem que podem salvar um projeto editorial líder. Dar este passo, será também defender a pluralidade e a democracia.

 

A alternativa, sem uma injeção de capital, terá de passar obviamente por um foco no digital, abdicando do papel e do próprio canal de televisão. É este o processo que outros jornais, como o El País, aqui ao lado, em Espanha, estão a preparar.

O papel só faz sentido se as vendas o justificarem. Sendo realistas, isso não irá acontecer porque ninguém quer pagar para ler jornais! E nesse aspeto, no que ao consumo diz respeito, só os leitores podem tomar essa opção.

A solução dos media, está no "algoritmo"?

A incerteza que paira sobre os títulos em papel

 Não são apenas estes os títulos em risco, é toda a imprensa, todos os meios de comunicação social que estão na incerteza do futuro!

 

Ao ler a notícia de do Jornal de Negócios, sobre a manifestação de intenções da Impresa e Media Capital para criar em conjunto um "algoritmo" concorrente ao Google e Facebook, fico com alguma esperança que surja a união dos media em Portugal.

 

A responsável da Media Capital, Rosa Cullell, lançou o desafio a Francisco Pedro Balsemão, para a criação de um algoritmo concorrente ao dos players internacionais. Isto, durante o debate sobre o futuro da comunicação promovido pela IPG Mediabrands.

 

Mas, será que vamos no caminho certo? O que será esse "algoritmo?" Sinceramente, acredito que a solução não estará em tentar criar algo com um custo praticamente impossível de calcular, e, ainda por cima, para fazer frente, pela "via do código", a dois gigantes com o domínio tecnológico à escala global.

Será possível criar um algoritmo que mostre exatamente aquilo que cada um de nós quer ver?

 

A união, tem de ir no sentido de conseguir, a nível nacional mas também no contexto europeu, criar condições para valorização e proteção do conteúdo. Unir esforços de forma a conquistar o investimento publicitário para o conteúdo e não para os números apresentados por estes gigantes. Já agora, tal como tenho escrito neste blogue, números que são controlados pelas próprias plataformas e nos quais acredita quem quer!

Uma cópia, é uma cópia! E se a fonte original morre, nem a pirataria terá como sobreviver. 

Salvar os media, o jornalismo, passa por ter projetos editorialmente fortes, com qualidade, com profissionais que dignificam e respeitam a deontologia e unir esforços para combater a pirataria dos conteúdos.

 

O fim do papel, anunciado há anos, já chegou. O El País, aqui na vizinha Espanha, é a mais recente baixa no papel. A Internet é o presente, mas as regras que já existem para outras áreas, como a música ou os downloads de filmes de forma ilegal, têm de proteger também o conteúdo. Mais tarde ou mais cedo, será necessário forçar a legislação de forma a combater as estratégias de alguns sites que assentam apenas na cópia do conteúdo produzido pelos meios de comunicação social.

 

Ter uma redação composta por um grupo de pessoas que se limitam a "picar" as notícias alheias, baseia-se mais em pirataria do que jornalismo. As fontes originais das notícias, do conteúdo, têm o custo de produção, estes sites têm o proveito com origem na excelente estratégia de divulgação nas redes sociais, como o Facebook e Google.

 

Portanto, o caminho talvez esteja numa conjugação de esforços para conseguir contrariar o panorama de isenções legais que os gigantes internacionais possuem, forçar as entdades reguladoras a impor regras a quem copia as notícias e, em simultâneo, começar a olhar, a sério, para as estratégias no digital. 

 

Francisco Pedro Balsemão, futuro CEO da Impresa, considera os gigantes como "frenemies". "São concorrentes directos mas também são nossos parceiros", afirma, citado pelo negócios.

Os meios de comunicação social precisam de olhar para o Facebook e Google, e outras redes sociais, como ferramentas para angariar tráfego, retirando deles aquilo que podem, sem, no entanto, abdicar da sua autonomia e marcas. Evitar, a todo o custo, oferecer os conteúdos a plataformas que prometem o "El Dorado", como os Instant Articles. Se os meios de comunicação social caem neste erro, estão a dar o o ouro ao bandido!

 

Onde estão os leitores

O mundo está a mudar. Os hábitos de consumo estão, cada vez mais, inseridos no digital e a informação não é diferente. Os jornais em papel, pelo menos no que respeita aos diários, ficam sem sentido quando as notícias publicadas perdem a validade rapidamente. Afinal, uma boa estratégia digital permite que as notícias sejam dadas, praticamente, em tempo real.

Um país sem uma imprensa forte, pluralista e livre, é um país sem democracia. 

Um semanário, com artigos de análise, mais profundos, talvez continue a ter espaço, mas é preciso olhar para a dimensão do mercado e para o investimento publicitário disponível.

 

Os leitores, que hoje em dia têm contribuído para a queda de alguns dos principais meios, ao previlegiarem a leitura de notícias em sites que copiam, em vez das fontes originais, também precisam de saber escolher e exigir qualidade. Actualmente, não é isso que está a suceder. Lê-se e partilha-se aquilo nos chega mais rapidamente ao Facebook. E o Facebook, mostra o conteúdo de acordo com as regras obscuras do seu algoritmo.

 

É algo semelhante a comprar um iphone chinês, em vez do iphone original. Pode parecer a mesma coisa, mas, acreditem, não é. Ou ver um filme com um argumento copiado, filmado de forma amadora, em vez do filme original, ou um cover, em substituição da voz original. Pode até ser boa, mas não tem a mesma alma!

Uma cópia, é uma cópia! E se a fonte original morre, nem a pirataria terá como sobreviver.

 

Os utilizadores precisam de perceber que, para lerem, alguém tem o esforço de escrever. Se não pagam para ler, têm de perceber que é através da publicidade que os meios de comunicação social se financiam. A publicidade, os formatos, não podem ser uma selva, deve haver regras que garantam a qualidade, a usabilidade dos sites. Mas, se ninguém paga pela informação que lê, os meios de comunicação social não podem viver com os adblockers.

 

Um utilizador que usa estas ferramentas, está a contribuir para a morte dos produtores de informação. E um país sem uma imprensa forte, pluralista e livre, é um país sem democracia.

 

Por isso, cabe também aos leitores, seja no papel, no digital (onde os aparelhos móveis estão a ganhar terreno), lutar pela defesa da qualidade da informação que consomem. Lutar pelos títulos e marcas editorialmente fortes. Lutar pelos que procuram e redigem a informação e não pelos que copiam, roubam e vendem em bancas que deveriam ser ilegais!

 

Porque, no final do dia, as regras impostas à comunicação social, às televisões, têm um impacto enorme nos custos. E esse valor não se aplica a quem copia, ou aos operadores dos canais internacionais que inundam o mercado e que competem, diretamente, pelo bolo publicitário!

Artigos instantâneos no Facebook, a partir de abril para todos os editores

Instant Articles Facebook

 

O Facebook anunciou que vai abrir a todos os editores a ferramenta de Instante Articles. A data pré-anunciada é 12 de abril, no decorrer da Facebook Developer Conference. Para quem tem seguido o que escrevo, sabe que considero este processo mais uma ameaça aos órgãos de comunicação social que, perante a euforia de números, pode vir a apostar as fichas na rede social em detrimento dos investimentos nos seus sites próprios.

 

Já o disse aqui e repito, se o Facebook quer conteúdos, porque não gasta dinheiro na sua produção, ou paga por eles? Porque, no final do dia, esta rede social, tal como o Google ou outras semelhantes, concorrem de forma desleal nos mercados publicitários ("A" fonte de receita dos media, porque ninguém paga para ler, ver ou ouvir conteúdos).

 

Não têm as obrigações dos meios de comunicação social portugueses (focando o tema no nosso retângulo, mas isto sucede também noutras latitudes) e uma grande parte das verbas que recebem passam ao lado de taxas e impostos.

Jornais e jornalistas tendem a olhar apenas para o seu universo próximo, muitas vezes ignorando aquilo que se passa na redação da concorrência. Fazem mal. Ao deixarem de agir, estão apenas a adiar que o mesmo lhes suceda.

Mantenho o que já disse sobre estes "artigos instantâneos" no ano passado. Nada mudou desde então, a não ser a falta de entusiasmo dos órgãos de comunicação social em "oferecer" ao Facebook o seu conteúdo relevante, permitindo à empresa de Zuckerberg registar dados e ter um controlo sobre tudo o que for publicado.

E, a bem da saúde e futuro dos media, espero que os órgãos de comunicação social mantenham os pés assentes na terra.

 

 

Há, ainda, muitas perguntas sem resposta. Ao nível dos dados, até que ponto os órgãos de comunicação social vão ter acesso a estatísticas realmente interessantes? E, no que respeita ao tipo de conteúdos, todos sabem que o FB faz restrições, no entender de alguns, aleatórias. Conteúdos da playboy, por exemplo, serão vedados? Depois, a tal incerteza sobre as decisões do algoritmo do Facebook. Irá Zuckerberg dar relevância ao conteúdo "viral" ou à qualidade? E teremos de pagar, se queremos que o conteúdo ganhe alguma relevância e chegue, pelo menos, à teia de ligações da nossa página?

 

O Facebook insiste em deixar estas e outras questões sem resposta. Zuckerberg acredita que a euforia pelos mais de mil milhões de utilizadores diários no Facebook vai levar os jornais e jornalistas a colocar na rede o seu conteúdo, na esperança de o monetizar. 

 

Ao fazerem isto, será a estratégia errada. Os meios de comunicação social devem usar esta rede para divulgar o seu conteúdo mas de forma a angariar tráfego para os seus próprios sites e plataformas. É aqui que dominam os números e a publicidade angariada. Esta seria a típica relação "win-win".

 

Em todo o mundo, os jornais estão a sofrer um rude golpe e o mais certo será o encerramento de muitos títulos, pelo menos em papel. Este processo já começou, o The Independent é a mais recente baixa, e não tardará muito para que se multiplique e chegue a Portugal. Os anunciantes, única fonte de receita (digna de registo) dos media, estão a fugir para o digital onde Google e Facebook levam a maior fatia. E, não estarei a dizer nada de novo, sem gastarem um cêntimo na produção de conteúdo. Pior, escapando a regras às quais os meios de comunicação social estão sujeitos. E, atenção, levam uma fatia de publicidade que, muitas vezes, é mesmo desviada da televisão para o digital.

 

Por isso, e voltando ao caso português, que me diz mais respeito, será urgente que, no meio da confusão em que os meios de comunicação social vivem, haja união. Não vão sobreviver todos, mas os poucos que ficam têm de se unir se querem sobreviver.  

Jornais e jornalistas tendem a olhar apenas para o seu universo próximo, muitas vezes ignorando aquilo que se passa na redação da concorrência. Fazem mal. Ao deixarem de agir, estão apenas a adiar que o mesmo lhes suceda.

 

Sempre que uma redação sofre um golpe, em vez de pensarem, ainda bem que foram eles e não nós, pensem melhor!

 

O jornalismo é crucial para a Liberdade de Expressão e a pluralidade garantia da democracia. As apostas no digital serão incontornáveis e o papel apenas para quem quer pagar por ele. Cabe às redações unirem esforços para encontrar soluções viáveis, quem sabe, em conjunto com as administrações.

 

E, quem pensa que os jornalistas ganham demais, está completamente alheado da realidade. Em média, um jornalista ganha abaixo de mil euros por mês. Aliás, dirão muitos, mil euros é um ordenado muito bom! As administrações, as mais justas, sabem bem que, apesar das excepções, os jornalistas ganham mal e estão décadas sem ser aumentados. Mas, infelizmente, também é uma realidade, não têm grande margem para aumentar os salários.

 

Depois, claro, também compete aos utilizadores selecionarem aquilo que querem ver. Sempre que ouço esta afirmação, tremo!

Se a polícia entra nas feiras para apreender material contrafeito e punir aqueles que ganham dinheiro à conta do esforço e trabalho dos outros, porque razão o mesmo não deve ser feito ao nível dos conteúdos? Não, a decisão não deve ficar apenas nas mãos dos utilizadores. Tem de haver regras claras para punir os sites que se multiplicam e usam e abusam dos conteúdos de terceiros e que, com estratégias mais ou menos bem montadas (justiça lhes seja feita) ganham mais dinheiro do que os meios de comunicação social que produzem conteúdos relevantes de qualidade.

 

 E ganham à conta dos anunciantes que continuam a olhar apenas para números (reais???) que enchem folhas de cálculo e dashboards de analytics bonitos, recheados de gráficos! E a qualidade do conteúdo, é medida?

 

Talvez haja quem, do ponto de vista de usabilidade defenda a conveniência de tudo ser feito na mesma plataforma em benefício da experiência de utilização. Até pode ser verdade, mas isso é um engano irá ser mais um contributo para o encerramento da maioria das redações.

Seria ridículo dizer que tudo é mau nesta plataforma de artigos instantâneos. O que está em causa é a tentativa do Facebook continuar a ganhar milhões graças ao trabalho dos meios de comunicação social que se vêem obrigados a fechar portas porque quem ganha é a plataforma social!  

O caminho a percorrer ainda é longo mas será, certamente, precipitado com a crise paira sobre os media. Porque, quando a qualidade falhar, onde vão todos estes sites roubar conteúdo?

 

É necessário dizer mais?

 

A aposta das marcas 

Para os que leram até aqui, é preciso não esquecer que o Facebook vai abrir também esta plataforma às marcas que, desta forma, podem publicar conteúdo diretamente. E todas estão prontas para o fazer. Como disse anteriormente, as marcas continuam a investir milhões nas redes sociais (em especial no Facebook) e Google. Dificilmente vão mudar a agulha perante o potencial de público-alvo presente nestas plataformas. Mas, como já se sabe, e tem sido demonstrado por diversos estudos, as conversões são muito baixas.

Como as marcas estão a começar a retirar investimento ao FB, esta plataforma surge como uma arma poderosa para atrair estratégias de Content Marketing. A aposta de Zuckerberg assenta no "vício" dos utilizadores que, quando começarem a ler artigos nesta plataforma, vão deixar de ir a outros locais. 

 

Por isso, uma das grandes bandeiras que o FB acena quando fala dos "artigos instantâneos" baseia-se na rapidez com que estes abrem, em comparação com os links colocados na rede social e que remetem para o conteúdo em qualquer site.

 

Para quem duvida que o FB vai previligiar os "artigos instantâneos", vejam o que sucedeu com os vídeos publicados diretamente, em prejuízo dos vídeos de outras plataformas como, por exemplo, Youtube.

 

No que respeita ao Content Marketing, que as marcas têm produzido ou "comprado" aos órgãos de comunicação social, o Facebook apresenta-se como uma plataforma que reúne massa crítica oferecendo aquilo que não têm nos seus sites, tráfego. Mas isto terá um custo para as marcas.

 

Produzindo, ou comprando conteúdo aos próprios media, as marcas vão tentar aproveitar ao máximo os 1.5 mil milhões de utilizadores ativos diariamente no Facebook. A questão que se levanta para os marketeers é outra: irão conseguir canalizar tráfego para os seus sites, colocando os utilizadores/clientes no seu funil de compra?

 

Estratégias e criatividade não devem faltar, mas aquela que se prepara para ser a mais usada, assenta na publicidade à volta do conteúdo. Mais uma vez!

Olhando para o que se passou nos últimos anos, o Facebook vai ganhar muito dinheiro com esta estratégia e tanto as marcas como os meios de comunicação social devem estar atentos e preparados para o que aí vem. Entre vantagens e desvantagens, só será benéfico para quem se relaciona com o Facebook, se conseguir tirar partido desta estratégia, leia-se, registar um retorno significativo do investimento feito!

Post pago no Facebook: Time line de um caso prático

A propósito de um post sobre o desperdício de investimento nas redes sociais, foi realizado um caso prático com o Facebook. Um post, idêntico a tantos outros publicados no blogue Conversa de Homens, foi promovido na página de Facebook, pagando uma campanha de um dia com um valor de 5 euros.

 

No dia seguinte, quando a campanha estava quase a terminar, foi reforçada com mais 3 euros. Dizia o Facebook que garantia um alcance maior do post. A campanha terminou, por isso, no dia 21 às 10h30 da manhã. Durante esse período, supostamente, o post teria um alcance de 1500 a 4000 pessoas, com o reforço poderia chegar às 6 mil. Ou seja, seria mostrado nos perfis deste intervalo de valores.

 

Tentei, em diversos computadores de colegas, ver o tal post patrocinado. Não consegui ver em nenhum, azar!

 

Ao longo do tempo fui monitorizando o desempenho da campanha, através das ferramentas que o próprio Facebook disponibiliza. E fiz prints.

 

Este Post complementa o anterior, onde refiro este caso, apenas para mostrar como foi possível o tráfego orgânico diminuir para menos de metade, de um dia para o outro e depois de reforçar a campanha com os tais 3 euros.

Deixo de seguida o desenrolar dos acontecimentos, o restante texto está aqui.

 

Como se pode ver, o tráfego orgânico chegava aos 264 perfis no dia 20 de janeiro.

post pago no facebook dia 20 janeiro.png

 

No dia seguinte, depois de reforçar a campanha com mais 3 euros, o tráfego orgânico reduz para 96.

post pago resultados dia 21 janeiro.png

 

Às 15h29 de dia 21, o tráfego orgânico chegava às 131, já fora da campanha, mas mesmo assim, abaixo das 264 do dia anterior.

post pago facebook dia 21 15h29 (1).png

 

Pode ser que haja uma boa explicação, mais experiências haverá, para confirmar se será defeito ou feitio, da prática do Facebook.

 

De qualquer forma, voltando à escala do investimento, em mais de 13 mil pessoas a quem supostamente foi apresentado o conteúdo em questão, apenas 803 interagiram de alguma forma com ele. 

 

Mas, as dúvidas vão mais além. Pegando num exemplo de um vídeo, que, de acordo com o analytics do Facebook teve um alcance de 25.810 perfis, ou seja, foi mostrado na timeline de quase 26 mil pessoas, apenas regista 176 visualizações.

post de video no facebook.png

Vejamos o seguinte, trata-se de um vídeo que toca automaticamente, quando é mostrado no ecran, mesmo tendo em conta que nem toda a gente deixou tocar o vídeo até ao final, mesmo considerando que em mobile o vídeo pode não tocar automaticamente. Os rácios são muito baixos.

 

Como se verifica na imagem seguinte, a conclusão média de visualizações é de 100 por cento e contabiliza visualização desde que sejam vistos, pelo menos, 3 segundos do vídeo.

visualizações e vídeos facebook.png

 Estas são algumas das dúvidas que os responsáveis de marketing colocam (ou deviam colocar) quando investem e analisam os resultados do dinheiro colocado nas redes sociais.

 

 

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