Ficou fascinado pelos olhos azuis do bichano? Mas o texto irá falar pouco, ou nada, sobre gatos.
Nos dias que correm, num panorama em que o conteúdo é a melhor "ferramenta" de uma estratégia de marketing, existe alguma confusão entre conteúdo e notícias. Os dois são assumidos como sendo exatamente a mesma coisa. Não são, e há muitas diferenças entre eles. Uma notícia pode ser considerado conteúdo mas conteúdo não é propriamente notícia. E, como derivado, uma notícia é composta por conteúdo selecionado de acordo com critérios editoriais, jornalísticos.
Principalmente quando se fala de digital, de internet, esta separação é crucial. Com a massificação da internet, das redes sociais, da partilha viral, o termo conteúdo começou a dominar o mundo dos media, da comunicação, do marketing. Evoluiu mais depressa do que o jornalismo, sem capacidade de se adequar e fazer frente à euforia do consumo e da usurpação permitida pela internet, pelas redes sociais.
Ao deixar-se enredar por este frenezim, os meios de comunicação social começaram, eles próprios, a dar relevância àquilo que se passa nas redes sociais. Ajudaram-nas a crescer, ficaram cegos pela velocidade e não tiveram capacidade de prever o futuro. O presente!
Os jornais, as televisões, os jornalistas, transformaram em notícia o conteúdo dos cidadãos, muitas vezes em detrimento das notícias produzidas pelos próprios jornalistas. Apareceu a expressão "jornalismo do cidadão", que, enquanto profissional, recuso. Tal como recuso a existência da medicina ou arquitectura popular, apenas para dar dois exemplos.
Os leitores são, pegando na ideia da história, os heróis, mas também os vilões. Ao recusarem pagar para ler notícias, aceitam tudo o que lhes entra pelas redes sociais.
Em qualquer uma das áreas há quem considere que tem valências para as praticar, e até conseguem colocá-las em prática, mas nunca se podem substituir aos profissionais treinados e com qualidade específica para os realizar. Nem os jornais e jornalistas devem divulgar esse conteúdo sem o tratamento devido.
Vamos ver uma coisa. Eu, por exemplo, sou capaz de erguer uma parede, de assentar chão, colocar azulejos, de aplicar um lambri, papel de parede ou pladur. Mas faço-o por gosto e nem me passa pela cabeça, pelo menos sem me formar e adquirir experiência nessa área, assumir-me como profissional e oferecer os meus serviços ao público. (Leia-se que não existe um curso superior para ladrilhador (há engenharias e arquiteturas), mas um período de aprendizagem mais aprofundado com alguém que já o faça, adoptando algumas regras, é essencial para poder assumir a responsabilidade).
Voltando ao conteúdo, podem surgir questões como: "não são válidos os vídeos que um cidadão coloca sobre neve, ou cheias na internet? Ou sobre os atentados de Nice?" São, com o devido filtro feito pelas redações e com limites. E, claro está, convém evitar as situações como a que levou recentemente um jornal a publicar uma foto de um suposto furacão na margem sul do Tejo. Afinal, a foto era uma montagem, feita por um internauta, e nunca foi verdade.
Ou, como sucedeu com o "atentado" de Nice, onde além de faltar o tal filtro editorial, colocou-se a nu o estado da profissão a nível global.
Feito este esclarecimento prévio, o óbvio! Conteúdo pode ser tudo, mesmo não sendo nada. Conteúdo pode ser um vídeo de um gatinho a lamber o próprio traseiro, ao mesmo tempo que arregala os olhos, ou um qualquer texto, mesmo que bem esgalhado, sobre qualquer assunto.
Notícia, é algo que deve estar restrito aos jornalistas, aos meios de comunicação social regulados e reconhecidos para o efeito. Obedece a regras deontológicas e de escrita e apenas existe para trazer ao público algo de novo, credível, trabalhado por profissionais.
Um jornalista jamais deve escrever qualquer peça de conteúdo falsa, levando a crer, hipoteticamente, que barrar o corpo com manteiga ou óleo vegetal serve para proteger dos raios nocivos do sol.
A narração de uma notícia de género jornalístico deve ser feita com exatidão, objetividade e imparcialidade. Deve ser destacada a veracidade dos factos, a clareza da linguagem e a objetividade do seu conteúdo.
Há lugar para ambos os modelos e podem mesmo conviver, no mesmo espaço. Mas, a confusão existe e tem vindo a agravar-se. A distinção podia ficar por aqui, pela rama, mas este texto precisa de ir mais fundo. Até porque é importante separar conteúdo de qualidade do chamado conteúdo viral.
O content marketing
Quem tem seguido o que escrevo neste blogue sabe que defendo a existência do content marketing como uma das soluções para os media cativarem investimento publicitário, essencialmente no digital. Porque, como se sabe, há já muitos anos que no papel existem os dossiers especiais sobre temas variados, patrocinados por marcas. Não fazer confusão com "news marketing".
E esta é "a" diferença entre notícia e conteúdo: uma notícia jamais deve responder a um patrocinador. No entanto, lembro o seguinte, se ninguém paga para ler jornais, sites de notícias, e se estes sobrevivem da publicidade, todas as notícias acabam por estar patrocinadas, indiretamente, pela publicidade existente junto a essas notícias.
E, vale sempre a pena reforçar esta ideia, o termo conteúdo patrocinado não precisa ser prejurativo porque, lá está, há conteúdo e há notícias. Acima disto tudo, deveria haver o nome e credibilidade do órgão de comunicação social, do jornalista, o respeito pela deontologia e regras do jornalismo.
Enquanto houver esta confusão de termos, a mistura de todas as coisas na internet, o jornalismo irá continuar em queda e as marcas pagam mais a um qualquer bloguer para escrever uma peça sem qualidade, desde que o blogue apresente uns números interessantes (não interessa como angariam o tráfego), do que pagam a um jornal com 100 anos de história no jornalismo.
Vamos esquecer a separação das coisas por um breve momento. Um jornalista, um profissional da comunicação, sabe que a melhor forma de chegar aos leitores é através de uma história envolvente, bem contada. Por isso, e de forma muito básica, uma notícia, por regra, respeita o formato da pirâmide invertida.
Saber escrever, contar uma história, seja na imprensa escrita, internet, rádio ou televisão (cada um dos meios com as suas especificidades) é aquilo que distingue uma boa peça de um post de blogue que, como já escrevi diversas vezes, regra geral, é uma espécie de diário digital onde os autores podem publicar qualquer coisa. Um desabafo ao estilo, "querido diário, hoje cruzei-me novamente com aqueles olhos castanhos. Mesmo estando um dia de outono, encoberto, o cabelo moreno parecia brilhar..."
Hoje em dia, ser jornalista é uma profissão com pouco mérito, atacada por quem lê.
Claro, mesmo aqui, aplica-se o conceito do contador de histórias, o tal Storytelling tão badalado no mundo do marketing e dos conteúdos. Mas, não se trata apenas de contar uma história, é preciso saber contá-la, saber como chegar aos leitores, como os envolver e os colocar como heróis da história que lêem. Porque, afinal, contar uma história todos conseguem. Contá-la de forma a cativar e envolver quem a lê ou ouve, já é outra conversa.
Por isso, acredito que tal como já sucedeu noutras áreas, com o tempo, e passado todo este "entusiasmo" dos números, dos milhões de páginas vistas, apresentados por alguns blogues, as marcas vão centrar as atenções na qualidade, na credibilidade, no nível de envolvimento que as histórias têm com o público que as lê e no retorno real do investimento feito.
Do lado dos jornais, é preciso saber assumir este espaço. Saber traçar bem aquilo que é conteúdo patrocinado, content marketing, feito pelos profissionais, do conteúdo noticioso. Saber dar aos leitores as histórias da melhor forma possível. Usar a credibilidade dos jornais e jornalistas para a produção de conteúdo de qualidade, sem cair na tentação do facilitismo da tradicional publireportagem (outro estilo, outras regras).
Como as coisas funcionam melhor com exemplos, aqui fica um: uma marca de produtos de proteção solar pode, por exemplo, patrocinar conteúdos sobre os perigos do sol, a necessidade de utilização de protetores solares, como devemos agir para nos protegermos, adultos e crianças. Sem, no entanto, ser referida uma única vez a marca no conteúdo. A marca poderá surgir nos espaços próprios, destinados à publicidade. Sim, para clareza, pode até haver a informação extra de que o conteúdo que está a ser lido foi patrocinado pela marca.
Agora, imaginem que todo este conteúdo, como se sabe que as pessoas estão mais atentas ao tema na altura do verão, é feito por decisão do jornal, do jornalista. É o facto de ninguém pagar pelo conteúdo que ele vai ter mais valor para o público?
Como é óbvio, vale a pena reforçar a questão da deontologia. Um jornalista jamais deve escrever qualquer peça de conteúdo falsa, levando a crer, hipoteticamente, que barrar o corpo com manteiga ou óleo vegetal serve para proteger dos raios nocivos do sol. Devem antes sustentar a informação com dados de especialistas, médicos, por exemplo. Dá para perceber a ideia?
A deontologia
Estou a escrever este artigo, que já tinha como rascunho há algum tempo, e chega-me uma nota do Sindicato dos Jornalistas a fazer um alerta com o seguinte título: "Nota do Conselho Deontológico do Sindicato dos Jornalistas sobre publicidade e permeabilidade do jornalismo a conteúdos comerciais".
Sinceramente, desconheço se o Sindicato já discutiu alguma vez o tema do espaço de media ocupado por sites que mais nada fazem do que copiar o trabalho dos verdadeiros meios de comunicação social mas que, por terem melhores estratégias de comunicação e marketing, mostram bons números e acabam por desviar investimento publicitário.
O resultado é conhecido por todos os que vivem do negócio. O bolo publicitário é curto e quantos mais houver, menos cabe a cada um. E, como será fácil de calcular, se um meio que nada ou pouco investe para produzir uma notícia, optando pelo "picanço" de quem gasta na produção, consegue ganhar dinheiro com este conteúdo, com esta "notícia", o meio original ganha menos.
Nas discussões que tenho sobre o tema há sempre quem realce o óbvio: esses meios têm o mérito de fazer melhor divulgação, sabem usar melhor as redes sociais, etc. Claro, e eu respondo, e quando os meios originais, aqueles que sabem como produzir esse conteúdo, fecharem as portas? Onde vão os cábulas arranjar notícias para copiar?
O papel dos leitores
Os leitores não são inocentes neste processo. Os leitores são, pegando na ideia da história, os heróis, mas também os vilões. Ao recusarem pagar para ler notícias, aceitam tudo o que lhes entra pelas redes sociais, tomam como bom o conteúdo apresentado por sites com nomes desconhecidos e deixam de seguir e dar o merecido valor aos jornais com nome, com credibilidade.
Depois, como virgens ofendidas, colocam todos os jornalistas no mesmo saco, criticando, muitas vezes de forma ofensiva, toda uma classe profissional. Por isso, hoje em dia, ser jornalista é uma profissão com pouco mérito, atacada por quem lê. Serão poucos os que percebem que quanto mais lerem, de forma gratuita, criticarem os espaços de publicidade, usarem os tais bloqueadores de publicidade, cada vez irão ter menos qualidade, menos imprensa livre, menos democracia. Será que os leitores estão dispostos a pagar por conteúdo de qualidade?
Porque, afinal, os meios de comunicação social são um negócio e precisam de encontrar formas de ganhar dinheiro para pagar salário so jornalistas e outras pessoas essenciais para que as notícias cheguem aos leitores.
Já o tenho dito mas creio que vale a pena reforçar: quando lêem uma notícia, tal como lêem um livro ou ouvem uma música, sem pagar nada por ela, alguma vez pensam como os autores ganham dinheiro? Pensem nas vossas profissões, não acham justo ser remunerados pelo vosso trabalho?
Voltando à nota do Sindicato, é pouco clara em relação ao caso apresentado mas, depois de recordar a Lei de Imprensa, termina com a seguinte afirmação: "Mais, o Conselho Deontológico do Sindicato dos Jornalistas alerta os jornalistas em geral para uma realidade que se tem consolidado nos órgãos de comunicação social que é o facto de haver contaminação de conteúdos e espaços jornalísticos por conteúdos publicitários ou comerciais".
Deduzo que, mediante o que se tem visto, da maior aposta dos anunciantes em conteúdo, com prejuízo da publicidade tradiconal, que o Conselho Deontológico do Sindicato dos Jornalistas se refira ao content marketing. Que, recordo, tem sido a tábua de salvação de muitas redações. E pergunto, que medidas toma o Sindicato para tentar salvar os media?
A título de esclarecimento, a questão já seguiu para o Sindicato, aguarda-se resposta.
A decadência
Como jornalista, e com uma aposta na internet nos últimos 10 anos de profissão, custa-me ler os comentários das pessoas que ofendem, descredibilizam e colocam a profissão de jornalista num nível abaixo de lixo. Muitas vezes, feitos pelos mesmos que ofendem Cristiano Ronaldo e defendem Lionel Messi.
No entanto, seria bom que essas pessoas pessoas percebessem que a grande parte da responsabilidade pelo estado da profissão de jornalista é dos próprios leitores/consumidores de notícias. Ao privilegiarem "os Buzzfeed da vida" e assumirem estes meios como órgãos de comunicação social, estão a contribuir para o encerramento das redações a sério, para o despedimento de jornalistas seniores e contratação de pessoas que nada mais fazem do que "picar" notícias. Pessoas que publicam erros (e não falo apenas de erros ortográficos, muitas vezes existentes pela falta dos revisores), dão pontapés na deontologia. Mas, como já ouvi da boca de alguns dos mais altos responsáveis dos media em Portugal, "sabem mexer bem nas redes sociais".
Este é um tema que me apaixona, por razões óbvias, e poderia escrever sobre ele horas sem fim. Mas, para terminar, focando no tema que deu início a este texto, o Sindicato, tal como o jornalismo em geral, deveria adaptar-se a esta nova realidade que é a internet. Mais vale esclarecer as coisas com os leitores, deixar claro que há notícias e conteúdo e que pode até haver uma marca com interesse em divulgar determinado conteúdo, mas assegurando sempre a separação das notícias e o respeito pela deontologia.
E, já agora, lanço a pergunta, se choca assim tanto aos leitores o jornalismo ao estilo Correio da Manhã, porque continua esse jornal e televisão a liderar audiências?
Porque será que aquilo que se torna viral e é visto por milhões é o conteúdo voyeurista, violento?
Já o escrevi e repito: todos defendem a RTP2, mas ninguém vê. Todos criticam o "Big Brother" mas é o que mais se ouve comentar nos cafés.
Última nota sobre Nice
Estava de férias quando ocorreu o "atentado" de Nice. Vi, incrédulo, as mesmas imagens em quase todos os canais por onde fiz zapping no momento em que as televisões estavam todas a emitir em direto. Não foi apenas na CMTV que vi imagens de sangue, de corpos estrupiados, em direto, sem filtros.
Isto acontece pelo frenesim em que vivemos, pelos números das audiências. Mais uma vez, cabe aos leitores escolherem o que querem ver e, até agora, todos vêem o lhes passa no Facebook, clicam em imagens, em títulos apelativos, dão o tal clique a sites que ninguém conhece. Partilham, ajudam o algoritmo do Facebook a tornar o "conteúdo" viral. São livres de o fazerem, mas não acusem os jornalistas, pelo menos aqueles que ainda trabalham de forma digna.
Só quando o fizerem se evitam situações como as relatadas durante o atentado em Nice.
Os blogues, os bloguers, a blogosfera. Pelo menos uma destas palavras, senão todas, porque vivem num conjunto, já lhe passaram pela frente. Nos últimos anos, principalmente desde que começou a haver autores de blogues a ganhar dinheiro com os posts que publicam, e com o crescimento exponencial da presença da Internet no dia a dia, muitos decidiram apostar neste formato para tentar monetizar a escrita.
Como quase tudo, começou de forma gradual. Os pioneiros, com ajuda da própria comunicação social que a determinada altura começou a fazer notícia com alguns blogues, conquistaram uma presença valiosa no mercado de conteúdos. É incontornável, no panorama português, falar da Pipoca mais Doce (começou com um blogue, hoje é muito mais que isto), do Casal Mistério, entre outros blogues tipicamente mais apetecíveis para os anunciantes, pelo reconhecimento.
O mundo dos blogues cresceu, sem regras, ou melhor, com as regras da "comunidade". E, apesar da abertura que a Internet permite, é uma comunidade um pouco "fechada", uma espécie de clube.
Foi a Web 2.0, agora é a Internet das Coisas. Se, por estarem a ler um blogue, esperam que este texto seja mais um a colocar estas plataformas no topo da pirâmide estão, em parte, errados e podem mesmo ficar desiludidos. Nem todos os blogues merecem destaque, mesmo alguns dos mais conhecidos, pela falta de qualidade e criatividade dos conteúdos que apresentam.
Muitos deles nem sequer contribuem para uma discussão de ideias!
Lê quem quer, dirão de imediato alguns. E com razão. Mesmo os que estão a ler este texto e já começaram a espumar! Afinal, os leitores têm aquilo que exigem e os patrocinadores só são enganados quando tomam a decisão de investimento apenas por números e ignoram a falta (para não dizer total ausência) de qualidade do conteúdo. Mas têm na base uma figura pública e/ou apresentam números de acessos sonantes, muitas vezes tráfego comprado. Além disso, são blogues "agenciados"... Já vamos ao tema das agências!
O conteúdo relevante continua a ser a melhor forma de envolver os consumidores. Esta é uma afirmação com muitos anos e atualmente, no digital, continua a ser uma verdade cada vez maior.
O negócio dos bloguers tem crescido em todo o mundo mas, a bem da clareza, é preciso haver regras. O consumidor, as pessoas, o mercado de conteúdos, têm direito a ser protegidos. A ideia de que cada um tem de saber o que faz, quando lê um texto num blogue, é errada. Muitas vezes, as pessoas são levadas até esses blogues através de destaques e posts em sites credíveis com bastante tráfego e nas redes sociais. E, na maior parte das vezes, levam com um texto altamente comercial...
Ser bloguer, ainda não é profissão. Para ser, tem de respeitar regras, como todas as outras profissões. Uma coisa é ter um blogue pessoal, uma espécie de diário da sua vida, outra será publicar artigos com ambição editorial e jornalística ou pagos por determinada marca para serem redigidos. As marcas têm optado pelos blogues para apostar em Content Marketing, em detrimento de investimentos feitos nos media.
Estão no caminho certo, os blogues devem fazer parte da estratégia, mas as marcas precisam de apostar mais na qualidade da escrita, na relevância do conteúdo, do que nos números e no barómetro da figura pública, dos chamados influenciadores.
Quando estes "bloguers" tentam fazer a cobertura de eventos, em competição com os órgãos de comunicação social, estão a entrar no espaço de profissionais que respondem a regras. E este "pormenor" é crucial para a discussão!
Em Portugal, o tema foi levantado pela ERC - Entidade Reguladora para a Comunicação Social, com uma deliberação que recomenda que haja uma distinção entre blogues de cariz pessoal e aqueles que se assemelham a órgãos de comunicação social, criados por jornalistas, ou com ambições a tal.
É sabido que muitos blogues solicitam acreditações para ter acesso aos espaços de imprensa de determinados eventos, e têm sido concedidos. O problema, claro está, não é dos bloguers que pedem o acesso, mas de quem lhes atribui as acreditações, permitindo que circulem nos mesmos espaços dos jornalistas que têm regras e uma deontologia a cumprir.
O que a ERC defende é que no caso destes blogues, haja um estatuto equiparado a jornalista. Sujeito a regras idênticas às que o jornalista de um OCS está sujeito. Parece justo que as regras sejam para todos e nem sequer devem ser os consumidores a ter de lidar com essa distinção. Porque, não havendo regras, como e a quem pode um consumidor queixar-se?
Como jornalista, e acreditando que haverá uma clarificação para separar o trigo do joio na blogoesfera, aceito que também existam regras.
Além disso, a ERC lançou também a questão da obrigatoriedade de referência aos posts patrocinados que, para serem escritos num blogue, foram pagos por qualquer entidade em forma de patrocínio. É isto que se passa noutros países, como em França, por exemplo. É isto que os órgãos de comunicação social são obrigados a fazer.
Não parece errada a intervenção da ERC, mas a discussão será acesa. Afinal, as regras são um dos pilares da Democracia e não uma obstrução à Liberdade e Expressão.
Os bloguers que se apresentam como tal, assumindo que essa é uma das suas "profissões", até a bem dessa profissão, devem aceitar a existência de regras. Devem aceitar a transparência e a distinção com blogues menos "sérios".
Quanto aos blogues e bloguers assumidos, creio que as regras irão ajudar a clarificar e a cimentar uma profissão de futuro. Se não querem ser profissionais, e apenas escrever um diário pessoal, sem fins comerciais, serão outra coisa qualquer na vida, mas não bloguer!
Já agora, talvez o termo a usar deva ser bloguista, como está inscrito no Grande Dicionário da Língua Portuguesa. Além de ficar mais próximo de jornalista, é o termo adoptado oficialmente pela língua Portuguesa! Tenho algumas dúvidas sobre o tema, pessoalmente, prefiro bloguer (escrito à portuguesa)...
O Content Marketing
As regras para os orgãos de comunicação social são bem claras. Neste novo contexto do Content Marketing, tal como foi adotado a nível internacional pelos grandes títulos, como o New York Times, as regras também devem ser cumpridas pelos blogues, referindo que determinado artigo foi patrocinado?
A lei é clara mas abre espaço a determinadas interpretações. O caso dos OCS que se dedicam a escrever sobre tecnologia ou automóveis, por exemplo, falam de marcas e produto em todos os artigos escritos. Mesmo quando não são pagos para o fazer. E aqui surge o primeiro impacto: se a marca pagar, o artigo será menos sério?
A regra a aplicar, diz o bom senso, será sempre a da isenção do jornalista, o argumento da escolha editorial. O jornalista deve escrever com liberdade, sem intervenção ou manipulação. Tanto espaço para debate... Será tema para outra conversa, mas questiono apenas o seguinte: quem controla o que um diretor, ou editor, pede a um jornalista para escrever. Mesmo suspeitando que pode estar a fazer "um frete", o jornalista nega-se a escrever?
E podem estar a questionar, e bem: então, se é assim, quer dizer que os jornalistas também desrespeitam as regras? Sim, há quem o faça, mas pelo menos há regras e podem ser punidos quando não as cumprem.
O que lhe incute (ou deveria incutir) credibilidade e a tal isenção de análise, será o nome do OCS e do jornalista detentor de uma carteira profissional.
E se, no meu blogue, decidir falar de uma marca, por qualquer razão, mesmo que não me paguem nada por isso? Chama-se liberdade de expressão, todos o podem fazer. Há quem o faça apenas para se queixar de um serviço que correu mal, ou que correu muito bem. Há quem op faça para dizer que a marca se recusou a ceder um produto para testar... As redes sociais têm esse poder. Ou, como fiz no último post neste blogue, escrever sobre a criatividade de um anúncio de uma marca ou sobre este novo conceito de churrasqueira de bairro. (A título de esclarecimento, ninguém me pagou para escrever isto.)
No entanto, tal como escrevi há uns meses: não me choca escrever uma história que é paga, patrocinada por uma marca. Seja no meu blogue, seja num OCS, mesmo que tenha de citar marca, desde que me sinta confortável com o que escrevo. Mesmo que seja para escrever uma experiência como consumidor de um produto. Estou a relatar, de forma profissional, uma experiência vivida.
Será diferente se tiver de escrever algo com o qual não concordo por ser mentira ou se considerar que posso influenciar de forma negativa uma pessoa. É, também, uma questão de consciência ou deontológica. Mas, como jornalista, e acreditando que haverá uma clarificação para separar o trigo do joio na blogoesfera, aceito que também existam regras. Afinal, desde que seja claro para todos, esta será uma forma de ganhar dinheiro com o conteúdo que chega aos leitores de forma gratuita.
Uma profissão com futuro e o papel das agências
Atualmente, depois da loucura que se tem vivido com os posts pagos por marcas em blogues de maior dimensão - que fizeram o seu caminho com uma boa estratégia de marketing, alavancados pelos órgãos de comunicação social que, ao falar deles lhes deram credibilidade - os utilizadores começam já a olhar para alguns destes posts com desconfiança. Basta estar atento a alguns comentários nesses blogues onde são os próprios leitores a disponibilizar o link do conteúdo original. Muitos deles carecem de qualidade, apesar de serem bem pagos.
Durante o ClickSummit, no painel Agenciamento de Celebridades Digitais, Francisco Gautier, da Blog Agency, revelou, perante o espanto da audiência (manifestado através de tweets e de burburinho), que há figuras públicas a ganhar entre 10 mil a 20 mil euros/mês com o blogue e que, muitos deles, nem sequer escrevem o que lá é publicado.
E coloco aqui dois dos tweets que Pedro Rebelo publicou no momento e representam o espanto da audiência!
"Bloggers que não escrevem..." Isto é todo um novo conceito. A sério. Isso não são bloggers. Chamem-lhes outra coisa. #clicksummitpt
Como é óbvio, esta prevaricação do mercado, do mundo dos blogues, tem um impacto bastante negativo para quem tenta vingar com a aposta em conteúdo original. Agregar tem o seu mérito, mas convenhamos, se todos formos agregadores, se são os aregadores a ganhar mais dinheiro do que os produtores do conteúdo original, com o tempo, deixará de haver conteúdo!
Por isso, uma clarificação irá também ajudar a separar, do ponto de vista qualitativo, os blogues que podem ter algo de útil daqueles que apenas servem de repositório, de cópias de conteúdo alheio. De traduções de textos alheios, de blogues que são uma espécie de agregadores de conteúdo de terceiros. Mas este tema será ainda mais difícil de debater pois o papel de curadoria e agregação também tem a sua utilidade.
Para os que recusam esta discussão da existência de regras, se não querem ser profissionais, e apenas escrever um diário pessoal, sem fins comerciais, serão outra coisa qualquer na vida, mas não bloguer (bloguista)!
Serão apenas pessoas que gostam de colocar o seu diário na Internet, em vez de o deixarem trancado com cadeado. E aí sim, sem presunção, permitir que aquilo que escrevem seja escrutinado pela comunidade. Mas, pelo menos, são os autores que escrevem e interagem com a comunidade!
Nos últimos anos, principalmente desde o grande crescimento do digital, a publicidade, na sua forma tradicional, tem caído bastante. Os adblockers dos browsers, como principal razão, mas não única, para esta queda, têm provocado uma redução significativa nos investimentos feitos nos formatos tradicionais.
Apesar de tudo, no que diz respeito ao mercado publicitário, o investimento no digital tem crescido, de acordo com dados de mercado, cerca de 10% ao ano. Mas a maior fatia desse crescimento é feito através do investimento no Facebook e Google.
Novas formas e formatos foram tentados, com conversões bastante abaixo do esperado. Mesmo em relação à "inovação" dos posts patrocinados do Facebook e outras redes sociais, a queda é inevitável com os Retornos do Investimento a resgistarem níveis dificeís de explicar.
Na procura de novas formas de comunicar, surgiu o termo Inbound Marketing, por oposição ao tradiconal Outbound. E essa nova forma de comunicar é feita, essencialmente, com recurso a conteúdo.
A criatividade é o ponto fulcral do sucesso da publicidade. Perante as novas tecnologias, o desafio é ainda maior.
Como tenho escrito aqui por diversas vezes, o Content Marketing teve espaço para crescer, para ser colocado no local de destaque que merece. A estratégia de apostar em conteúdo relevante, que atraia os consumidores, os clientes, até à conversão, quando bem feito e aplicado, tem-se revelado mais eficaz do que qualquer campanha tradicional.
Afinal, a relevância do conteúdo da mensagem sempre foi crucial para o sucesso de uma relação. Não é diferente daquilo que é necessário nas relações as marcas com os consumidores. Depois, é preciso não esquecer que é muito chato estar a ouvir uma pessoa sempre a falar de si. O mesmo se passa com as marcas. Quando o foco é feito nos produtos, nas marcas, nas empresas, a comunicação perde interesse. O foco, o centro das histórias, deve estar no público alvo e nas suas necessidades.
Mas, uma não substitui a outra. A publicidade, na sua génese mais agressiva, vai continuar a existir e será sempre necessária numa estratégia de comunicação de marca. De forma complementar e com recurso a maior criatividade.
As plataformas permitem maior liberdade, as larguras de banda, as capacidades dos telemóveis, a predominância dos smartphones, estão à espera da criatividade. De vez em quando, lá surge um ou outro anúncio mais interativo, mas com pouco engagement. É bonito, passa marca, tenho algumas dúvidas em relação aos níveis de notoriedade alcançados por muitos dos anúncios que se autodominam como virais.
Neste último ano tenho dado de caras com alguns destes exemplos. A nível internacional, a Super Bowl é o evento que continua a despertar maior interesse, pelo que custa o espaço, e pela conotação viral de alguns desses vídeos. São coisas bem feitas, sem dúvida, com histórias emotivas, o cachorro enamorado por um cavalo (o que há para não gostar nisto, ainda por cima num ambiente de rancho tipicamente americano, certo?). Mas qual o verdadeiro retorno para a marca?
A grande maioria continuam a ser "simples" anúncios, pagos a peso de ouro, pelo potencial de audiência, no intervalo de uma final de futebol americano. Até agora, ainda não se consegue medir a quantidade de olhos que estão realmente a olhar para o écran, mas todos sabemos, há muitos anos, que é nesta altura que se aproveita para ir fazer "o chichizinho"!
Falta maior criatividade, não na produção, mas na forma. Na minha opinião, há excepções, como este spot da Coca-Cola, que me levou a escrever este texto, acreditando que o processo criativo continua a ser uma esperança. Não sou um fanático do refrigerante, mas não haja dúvidas que este formato contempla todos os meios, incita à participação do público-alvo e tem níveis de engagment reais.
Alguém duvida que a Coca-Cola sabe, exatamente, quantas pessoas "beberam" o seu anúncio?
O Facebook anunciou que vai abrir a todos os editores a ferramenta de Instante Articles. A data pré-anunciada é 12 de abril, no decorrer da Facebook Developer Conference. Para quem tem seguido o que escrevo, sabe que considero este processo mais uma ameaça aos órgãos de comunicação social que, perante a euforia de números, pode vir a apostar as fichas na rede social em detrimento dos investimentos nos seus sites próprios.
Já o disse aqui e repito, se o Facebook quer conteúdos, porque não gasta dinheiro na sua produção, ou paga por eles? Porque, no final do dia, esta rede social, tal como o Google ou outras semelhantes, concorrem de forma desleal nos mercados publicitários ("A" fonte de receita dos media, porque ninguém paga para ler, ver ou ouvir conteúdos).
Não têm as obrigações dos meios de comunicação social portugueses (focando o tema no nosso retângulo, mas isto sucede também noutras latitudes) e uma grande parte das verbas que recebem passam ao lado de taxas e impostos.
Jornais e jornalistas tendem a olhar apenas para o seu universo próximo, muitas vezes ignorando aquilo que se passa na redação da concorrência. Fazem mal. Ao deixarem de agir, estão apenas a adiar que o mesmo lhes suceda.
Mantenho o que já disse sobre estes "artigos instantâneos" no ano passado. Nada mudou desde então, a não ser a falta de entusiasmo dos órgãos de comunicação social em "oferecer" ao Facebook o seu conteúdo relevante, permitindo à empresa de Zuckerberg registar dados e ter um controlo sobre tudo o que for publicado.
E, a bem da saúde e futuro dos media, espero que os órgãos de comunicação social mantenham os pés assentes na terra.
Há, ainda, muitas perguntas sem resposta. Ao nível dos dados, até que ponto os órgãos de comunicação social vão ter acesso a estatísticas realmente interessantes? E, no que respeita ao tipo de conteúdos, todos sabem que o FB faz restrições, no entender de alguns, aleatórias. Conteúdos da playboy, por exemplo, serão vedados? Depois, a tal incerteza sobre as decisões do algoritmo do Facebook. Irá Zuckerberg dar relevância ao conteúdo "viral" ou à qualidade? E teremos de pagar, se queremos que o conteúdo ganhe alguma relevância e chegue, pelo menos, à teia de ligações da nossa página?
O Facebook insiste em deixar estas e outras questões sem resposta. Zuckerberg acredita que a euforia pelos mais de mil milhões de utilizadores diários no Facebook vai levar os jornais e jornalistas a colocar na rede o seu conteúdo, na esperança de o monetizar.
Ao fazerem isto, será a estratégia errada. Os meios de comunicação social devem usar esta rede para divulgar o seu conteúdo mas de forma a angariar tráfego para os seus próprios sites e plataformas. É aqui que dominam os números e a publicidade angariada. Esta seria a típica relação "win-win".
Em todo o mundo, os jornais estão a sofrer um rude golpe e o mais certo será o encerramento de muitos títulos, pelo menos em papel. Este processo já começou, o The Independent é a mais recente baixa, e não tardará muito para que se multiplique e chegue a Portugal. Os anunciantes, única fonte de receita (digna de registo) dos media, estão a fugir para o digital onde Google e Facebook levam a maior fatia. E, não estarei a dizer nada de novo, sem gastarem um cêntimo na produção de conteúdo. Pior, escapando a regras às quais os meios de comunicação social estão sujeitos. E, atenção, levam uma fatia de publicidade que, muitas vezes, é mesmo desviada da televisão para o digital.
Por isso, e voltando ao caso português, que me diz mais respeito, será urgente que, no meio da confusão em que os meios de comunicação social vivem, haja união. Não vão sobreviver todos, mas os poucos que ficam têm de se unir se querem sobreviver.
Jornais e jornalistas tendem a olhar apenas para o seu universo próximo, muitas vezes ignorando aquilo que se passa na redação da concorrência. Fazem mal. Ao deixarem de agir, estão apenas a adiar que o mesmo lhes suceda.
Sempre que uma redação sofre um golpe, em vez de pensarem, ainda bem que foram eles e não nós, pensem melhor!
O jornalismo é crucial para a Liberdade de Expressão e a pluralidade garantia da democracia. As apostas no digital serão incontornáveis e o papel apenas para quem quer pagar por ele. Cabe às redações unirem esforços para encontrar soluções viáveis, quem sabe, em conjunto com as administrações.
E, quem pensa que os jornalistas ganham demais, está completamente alheado da realidade. Em média, um jornalista ganha abaixo de mil euros por mês. Aliás, dirão muitos, mil euros é um ordenado muito bom! As administrações, as mais justas, sabem bem que, apesar das excepções, os jornalistas ganham mal e estão décadas sem ser aumentados. Mas, infelizmente, também é uma realidade, não têm grande margem para aumentar os salários.
Depois, claro, também compete aos utilizadores selecionarem aquilo que querem ver. Sempre que ouço esta afirmação, tremo!
Se a polícia entra nas feiras para apreender material contrafeito e punir aqueles que ganham dinheiro à conta do esforço e trabalho dos outros, porque razão o mesmo não deve ser feito ao nível dos conteúdos? Não, a decisão não deve ficar apenas nas mãos dos utilizadores. Tem de haver regras claras para punir os sites que se multiplicam e usam e abusam dos conteúdos de terceiros e que, com estratégias mais ou menos bem montadas (justiça lhes seja feita) ganham mais dinheiro do que os meios de comunicação social que produzem conteúdos relevantes de qualidade.
E ganham à conta dos anunciantes que continuam a olhar apenas para números (reais???) que enchem folhas de cálculo e dashboards de analytics bonitos, recheados de gráficos! E a qualidade do conteúdo, é medida?
Talvez haja quem, do ponto de vista de usabilidade defenda a conveniência de tudo ser feito na mesma plataforma em benefício da experiência de utilização. Até pode ser verdade, mas isso é um engano irá ser mais um contributo para o encerramento da maioria das redações.
Seria ridículo dizer que tudo é mau nesta plataforma de artigos instantâneos. O que está em causa é a tentativa do Facebook continuar a ganhar milhões graças ao trabalho dos meios de comunicação social que se vêem obrigados a fechar portas porque quem ganha é a plataforma social!
O caminho a percorrer ainda é longo mas será, certamente, precipitado com a crise paira sobre os media. Porque, quando a qualidade falhar, onde vão todos estes sites roubar conteúdo?
É necessário dizer mais?
A aposta das marcas
Para os que leram até aqui, é preciso não esquecer que o Facebook vai abrir também esta plataforma às marcas que, desta forma, podem publicar conteúdo diretamente. E todas estão prontas para o fazer. Como disse anteriormente, as marcas continuam a investir milhões nas redes sociais (em especial no Facebook) e Google. Dificilmente vão mudar a agulha perante o potencial de público-alvo presente nestas plataformas. Mas, como já se sabe, e tem sido demonstrado por diversos estudos, as conversões são muito baixas.
Como as marcas estão a começar a retirar investimento ao FB, esta plataforma surge como uma arma poderosa para atrair estratégias de Content Marketing. A aposta de Zuckerberg assenta no "vício" dos utilizadores que, quando começarem a ler artigos nesta plataforma, vão deixar de ir a outros locais.
Por isso, uma das grandes bandeiras que o FB acena quando fala dos "artigos instantâneos" baseia-se na rapidez com que estes abrem, em comparação com os links colocados na rede social e que remetem para o conteúdo em qualquer site.
Para quem duvida que o FB vai previligiar os "artigos instantâneos", vejam o que sucedeu com os vídeos publicados diretamente, em prejuízo dos vídeos de outras plataformas como, por exemplo, Youtube.
No que respeita ao Content Marketing, que as marcas têm produzido ou "comprado" aos órgãos de comunicação social, o Facebook apresenta-se como uma plataforma que reúne massa crítica oferecendo aquilo que não têm nos seus sites, tráfego. Mas isto terá um custo para as marcas.
Produzindo, ou comprando conteúdo aos próprios media, as marcas vão tentar aproveitar ao máximo os 1.5 mil milhões de utilizadores ativos diariamente no Facebook. A questão que se levanta para os marketeers é outra: irão conseguir canalizar tráfego para os seus sites, colocando os utilizadores/clientes no seu funil de compra?
Estratégias e criatividade não devem faltar, mas aquela que se prepara para ser a mais usada, assenta na publicidade à volta do conteúdo. Mais uma vez!
Olhando para o que se passou nos últimos anos, o Facebook vai ganhar muito dinheiro com esta estratégia e tanto as marcas como os meios de comunicação social devem estar atentos e preparados para o que aí vem. Entre vantagens e desvantagens, só será benéfico para quem se relaciona com o Facebook, se conseguir tirar partido desta estratégia, leia-se, registar um retorno significativo do investimento feito!
O ano de 2015 está a terminar e com ele surge uma incerteza sobre o futuro do jornalismo, dos jornais, dos jornalistas. Ao longo das últimas décadas que o negócio dos media assentou em estratégias de interesses económicos, empresários e grupos que acreditaram que possuir um jornal serve os seus interesses e os dos seus "amigos" influentes.
Ignorar este facto é deixar de lado uma das razões que trouxe os media ao estado que hoje todos conhecem.
É fácil criticar um jornalista por uma vírgula fora do sítio, por um qualquer erro de escrita. Mas ninguém questiona o facto dos jornais serem escritos, todos os dias, em meia dúzia de horas sem que haja a figura do revisor que escrutinava a escrita e corrigia estes erros, por exemplo.
As redações foram emagrecendo, limpando funções e mesmo os jornalistas com mais experiência são afastados e substituídos facilmente por estagiários ou até por pessoas sem formação em jornalismo. Será mais jornalista alguém que tem formação na área? Não, haverá exceções! Mas é por essa razão que nem todos os formados chegam a entrar na profissão. Esses, que optam por outro caminho, talvez sejam os mais inteligentes, os que percebem cedo que ser jornalista significa ter um curso superior, trabalhar mais de 12 horas por dia, receber salários na maioria próximo dos 900 euros, uma grande parte a recibos verdes... e podia continuar. É preciso ter amor pela profissão para ser jornalista.
Tal como escreveu uma das jornalistas do Económico no Facebook: "Enquanto houver pão duro, há rabanadas." E o Natal está aí à porta.
Sim, chegou a vez do Diário Económico, um projeto líder em Portugal, com jornalistas de topo, com salários, na maioria, dos mais baixos do mercado e em atraso. Hoje, tal como ontem, a notícia é a penhora pelo Fisco das contas bancárias onde estava o dinheiro de parte dos salários que iriam ser pagos, já fora de prazo, a quem faz sair o jornal todos os dias. Apesar de não receberem o salário, continuam a mostrar profissionalismo e amor à camisola. Não dura sempre, nem pode. Ir trabalhar, significa um custo, para muitos dos jornalistas, insuportável sem receber salário.
Os jornais em papel continuam a irão continuar a ter espaço. Mas o negócio tem de ser repensado.
A questão agora está na força que a administração terá para negociar com as Finanças o desbloqueio das verbas penhoradas.
Há meses que se fala da instabilidade do grupo económico que detém o título. A Ongoing, de Nuno Vasconcelos, era o maior acionistas individual da Portugal Telecom. O império ruiu como tudo o resto que desmoronou com a queda da PT. Os rumores sobre a venda do título multiplicam-se e, segundo consta, há apenas um interessado. Domingos Vunge, angolano que tem manifestado interesse em diversos meios de comunicação social portugueses, incluindo a própria RTP.
No entanto, este é apenas o nome conhecido de um grupo de acionistas desconhecidos. Os verdadeiros proprietários da Newshold, empresa que Vunge representa, é participada a 95% pela offshore Pineview Overseas, registada no Panamá.
Por mais que se escreva, ninguém aponta o dedo às decisões administrativas que empurram projetos editoriais com mais de 20 anos para o abismo. Essa é a componente lúdica das notícias sobre os despedimentos. Fala-se das ligações acionistas, dos interesses de empresários angolanos em dominar a comunicação social em Portugal, para depois se atingir o ponto em que o jornal I e Sol chegaram há menos de um mês.
Falta união na profissão. Um jornalista é capaz de estar a escrever uma história sobre uma qualquer fábrica com salários em atraso, com trabalhadores a recibos verdes, quando o próprio jornalista está inserido numa redação com piores condições do que as que descreve.
Do lado de quem lê, está sempre um público que gosta de estar informado mas que recusa pagar pela informação e, em muitos casos, ainda critica as páginas de publicidade, ou os banners, quando se fala em sites na Internet.
Está um público que critica a "agressividade" do estilo do jornalismo sensacionalista, como o Correio da Manhã, mas continua a comprar o jornal. Porque, no fim do dia, apesar das dezenas de atropelos que fazem, desnecessariamente, às regras da deontologia profissional, são os únicos a levantar o véu para alguns temas inconvenientes. Vale a pena reforçar que, em jornalismo, não vale tudo!
O futuro está no digital?
Antes de mais, o presente já é digital. Sempre que a conversa paira sobre qual o futuro do jornalismo, invariavelmente se deriva para a morte anunciada do papel e a necessidade da migração para o digital. Não tem de ser exatamente assim. Há espaço para jornais em papel, tal como haverá para os livros, apesar das versões digitais, mas é essencial uma mudança de paradigma.
O crescimento de projetos online está assente na divulgação de conteúdos, na maior parte dos casos, copiados dos jornais em papel que tiveram o esforço e custo de os produzir. Mas quem ganha o dinheiro com o conteúdo, uma vez que o papel não é comprado, são as dezenas de sites que têm estagiários a "picar" as notícias originais logo pela manhã. Estes projetos são lucrativos e possuem estruturas maiores e se calhar até com salários mais elevados do que aqueles que são pagos aos jornalistas nas redações a sério. Portanto, desde logo se pode tirar uma conclusão, o custo está do lado da produção e não nos salários dos jornalistas.
Quem defende que deve ler de forma gratuita as notícias dos jornais, e considera injusto pagar por isso, deveria pensar na sua área profissional. Devo eu trabalhar de borla e oferecer o que produzo?
Mas como é possível que a regulação permita que estes projetos "roubem" o conteúdo a quem os produz? É uma pergunta que quando tiver resposta poderá ajudar a solucionar uma parte do problema. Mas não é só isto que trouxe os jornais ao ponto em que estão.
A cultura do conteúdo gratuito, suportado apenas pela publicidade, é limitada e a oferta em demasia apenas faz com que as fatias sejam cada vez menores. Afinal, o investimento publicitário não tem crescimentos que acompanhem a multiplicidade dos projetos que surgem no mercado.
Hoje em dia coloca-se tudo no mesmo saco. Conteúdo vai desde um vídeo de gatinhos aos saltos; um GIF animado; a notícias. Mas há uma diferença.
Obviamente, até por uma questão profissional, e no que a notícias jornalísticas diz respeito, o jornalista que as produz e a publicação que as divulga, tem de ter maior relevância. Um jornalista e um órgão de comunicação social devem respeitar regras deontológicas básicas e perfeitamente identificadas com o objetivo de manter a integridade, por um lado, e a defesa do cidadão, por outro.
Por isso, quando se fala no Facebook ou Twitter como se de órgãos de comunicação social se tratasse, é preciso lembrar que não o são. E a prática do que tem sido feito é clara: a comunidade promove e partilha conteúdo copiado de fontes originais, algumas vezes falso, difamador e que provoca um prejuízo brutal na vida dos visados.
O desmentido destas "desinformações" corre de forma mais lenta, não é tão viral e, mesmo depois de se saber que é falso, os algoritmos permitem que passados meses, haja quem volte a fazer circular coisas antigas como se de novidades e tratassem. É o poder do "vírus", por mais que se ataque, consegue sempre sobreviver!
É impossível esquecer que, também graças à atual situação dos órgãos de comunicação social, do formato de negócio associado, muitas vezes se assiste a atentados à profissão. Nas redações falta memória, atribui-se responsabilidade a estagiários, paga-se mal (o negócio não dá para mais); aceita-se que outras funções têm de ser bem remuneradas mas que um jornalista deve ser mal pago.
Insisto que a seleção natural está nas mãos dos leitores. Se aceitam ler qualquer coisa, independentemente da fonte, e se, no caso da Internet, o que ajudam a partilhar é o conteúdo de um qualquer site, que nem sequer é a fonte original da notícia, estão a contribuir para que essa fonte de produção seque. A consequência será óbvia: os jornais despedem os jornalistas, as notícias com qualidade deixam de existir, e o conteúdo de qualidade desaparece. A questão é: será que os leitores vão sentir falta da qualidade?
Os jornais em papel continuam a ter alguma resistência ao digital. Ainda sentem que não devem ter online as notícias do papel. E estariam corretos se não fosse permitido a terceiros pegar nessas notícias e colocá-las em sites, espalhadas pelas redes sociais. na maior parte dos casos, a fonte original da notícia desaparece da equação.
O tema é um pouco semelhante com o que sucedeu há uns anos com as empresas de clipping. Basicamente pegavam nas notícia dos jornais, empacotavam e vendiam a bom preço o serviço a empresas que, dessa forma, tinham acesso à informação que queriam, sem ter de comprar jornais.
Nessa altura houve união e as empresas de clipping tiveram de começar a pagar pelo conteúdo. Neste momento, talvez seja o momento de criar regras também para quem usufrui do investimento feito pelos órgãos de comunicação social.
Mas os jornais, mesmo aqueles que pensam que estão a apostar forte no digital, precisam de encarar o digital de outra forma. precisam de quem pense digital, de quem desenhe uma estratégia a pensar online, em última análise, até independente da estratégia do papel que se deve focar na diferenciação.
Pensar simplesmente que ao colocar meia dúzia de bons jornalistas a escrever para um site fará a diferença, é errado. As variáveis de código, design, possibilidades do que fazer com um mesmo conteúdo, as estratégias de SEO, são mais do que apenas escrever e publicar um artigo.
A realidade portuguesa
Muitas vezes questionamos de que forma pode um jornal ser lucrativo? Invariavelmente o peso recai sobre os salários dos jornalistas, sobre o custo com a produção de notícias. Recordo que, sobre os salários, a realidade é bem diferente. Há casos que podem ser considerados abusivos mas a grande maioria ganha ao nível de profissões sem qualificação.
Por diversas vezes ouvi, da boca de pessoas com responsabilidade em empresas, menosprezar o trabalho do jornalista. Ir para a rua cobrir um evento, uma conferência de imprensa? Isso faz-se pela televisão que, já agora, envia para a tal conferência um qualquer estagiário, sem capacidade de questionar a personagem, permitindo que em vez de uma conferência se trate apenas de direito de antena. Se todos ficarem a olhar para a TV, é óbvio que aquilo que vai sair no dia seguinte será igual em todos os jornais e limitado à vontade do tempo que o próprio canal decide dar à personagem.
O mercado português precisa de um ajuste. O bolo publicitário, que sustenta as publicações, não tem crescimento que justifique tanta oferta.
O jornalismo sentado é outra coisa qualquer, mas não jornalismo. Os leitores preferem continuar a ler de forma gratuita? Então o jornalismo tem de afinar agulhas e reinventar-se. Se os leitores não querem saber de notícias, não se importam com a qualidade, provavelmente tem de ser seguido um caminho diferente.
A recente aposta no content marketing, quando feita de forma estratégica, em conteúdo editorialmente relevante, que coloque os leitores no centro da história, tem sido encarada como uma salvaguarda de futuro. Mas isto funciona com conteúdo e dificilmente se enquadra num plano noticioso. E, apesar de ouvir algumas vozes contra este argumento, o jornalismo puro continua a ser um pilar relevante da democracia.
Quando este jornalismo da notícia acabar a liberdade de expressão irá sofrer mais um rude golpe.
Dimensão do mercado
Outra das questões que se coloca ao mercado está relacionada com o número de jornais em excesso e sem diferenciação.
Não será difícil perceber que o mercado português é pequeno para dois projetos de economia, por exemplo. É verdadeiramente curto para mais do que dois ou três jornais generalistas (DN e JN, fazem sentido?). Isto, claro, quando se fala em apostar em produção diferenciadora. Porque, no atual cenário, se não vendem, e vivem apenas da publicidade, quanto menos se gastar em produção, melhor.
A união faz a força continua a fazer sentido. Se dois jornais como JN e DN se fundirem (obviamente com o prejuízo de alguns postos de trabalho) terão mais força comercial perante um mercado publicitário curto e com muitas opções para negociar.
E isto é válido para o papel como será verdade daqui a pouco tempo no digital. Não haverá dinheiro para continuar a sustentar projetos que se imitam e não têm diferenciação. Há projetos com melhor estratégia de marketing, que já sabem tirar partido da comunicação das redes sociais mas que, no final do dia, não são mais do que um plágio dos jornais e jornalistas que investem verdadeiramente na pesquisa da informação.
O jornalismo precisa de ser refeito e é nas redações que deve começar, antes de chegar a necessidade de reforma antecipada. Os pilares do jornalismo podem manter-se intactos mas o negócio precisa de ser repensado e, quem sabe, voltar ao tempo dos ardinas.
Afinal, até os jornais gratuitos recorrem a este formato para distribuir o papel que produzem.