A crise que afeta os media portugueses é como um vírus que ocupa praticamente todo o planeta. Por muito que se procurem culpados este é um fenómeno ao nível do que se representa na série de ficção "The Walking Dead".
Antes de mais, convém dizer que a culpa não morre apenas na Internet. Aliás, a título de esclarecimento prévio, este meio é valioso e tem sido ignorado pela gestão das empresas de media.
No entanto, a Internet lançou um vírus que apenas ajuda a propagar os chamados "conteúdos virais". Vídeos de pessoas a bater com a cabeça numa parede, um acidente brutal, um gatinho a saltar de uma bancada de cozinha e a cair dentro de uma panela com água quente, dois homens da construção civil a trabalhar de forma ignóbil (leia-se, provavelmente porque acharam que ao fazer esta figura parva estavam a ser engraçados) que acabaram por ser gozados como pessoas sem o mínimo sentido de realidade. Vale tudo!
Não se fica apenas pelos vídeos. Os títulos enganadores, os textos mal escritos, copiados, muitas vezes, são "valorizados" por quem lê. Tornam-se virais porque os "algoritmos" das redes sociais assim o definem. São os conteúdos que apelam ao "voyeurismo", o mesmo fenómeno que nos faz parar para ver um acidente, bloqueando o trânsito.
Torna-se viral porque os próprios media abdicaram de lutar pela qualidade. Foram atingidos pelo vírus e, eles próprios, na ânsia de conquistar mais cliques, ajudam a propagar estes conteúdos. Não estão a fazer um bom serviço. Nem a eles, nem ao público, que deveria ser educado com conteúdo de qualidade.
Do ponto de vista de gestão, muitos dirão que não compete aos media educar o público. Se querem ver novelas, a grelha das televisões enche-se de novelas. Com ou sem qualidade.
E isto sucede porque, em plena guerra contra o vírus, contra a desgraça e fim eminente de uma classe profissional, em vez de união, os media abatem-se uns aos outros. Um parelo com a série da FOX onde, os poucos humanos sobreviventes, os que ainda não se tornaram zombies, optam por se matar em vez de se unirem, pela sobrevivência da espécie.
Esta será, talvez, uma das séries mais parvas que existe, mas tem seguidores fiéis. Eu, pecador me confesso. Mais do que as cenas sanguinárias, existe na génese do argumento toda uma análise sociológica daquilo que somos como humanos.
O que sucederia se todos os grandes jornalistas, focando o tema em Portugal, se juntassem para fazer um projeto editorialmente forte, isento, sem ligações económicas ou políticas.
A cada episódio não espero nada mais do que ver Rick e o seu grupo estoirar a cabeça dos "walkers", mas anseio pelo desfecho sociológico. Pelas relações entre os humanos que, em situações de crise, pensam apenas em si e esquecem que, se unirem esforços, podem ser mais fortes. Lutam e desperdiçam alimentos. Lutam e morrem às mãos de pessoas que também fogem aos perigos. Fecham as portas a quem, desesperado, procura abrigo e refúgio. Não é assim tão longe da realidade. Quando vejo o que está a suceder com a crise dos refugiados sírios, imagino cenas ao estilo "The Walking Dead".
O mesmo se passa nos media portugueses. Não digo que isso aconteça ao nível dos jornalistas, dos poucos que ainda pensam a profissão, com rigor, deontologia, sentido de responsabilidade e respeito pelos leitores. Mas há muitos anos que sucede com quem decidiu que o jornalismo deveria servir os interesses de alguns e não a liberdade de expressão e a democracia.
Nas redações, pratica-se a auto-censura. Quase nem é necessário haver um diretor "mandado" a bloquear ou a encaminhar a escrita em determinado sentido. O sentido de salvação do lugar, do emprego, do salário precário ao final do mês, na maioria dos casos a recibos verdes, sobrepõe-se a tudo isto. Mesmo os históricos que ainda estão nas redações, sentem o peso da censura. Dali, só a reforma!
Nas redações também há profissionais exemplares, em todas elas, que não crescem. Muitos, os mais novos, sem a possibilidade de aprender com a memória de gerações anteriores. Crescem e potenciam este vírus. Sabem como entrar na corrente do algoritmo, muitas vezes sem pensar no erro.
Por essa razão, nas redações falta memória. Falta quem ensine às novas gerações como se faz jornalismo a sério. Esses "professores", que ensinam mais do que nas universidades, estão afastados. São os incómodos, os que questionam mas que, no fim do dia, também se mantêm de costas voltadas.
O que sucederia se todos os grandes jornalistas, focando o tema em Portugal, se juntassem para fazer um projeto editorialmente forte, isento, sem ligações económicas ou políticas. Sem diretores "nomeados", sem os prussianos que não se revoltam.
Alguém iria pagar para ler o que fosse publicado? Ou voltamos ao tema de base: vai ser um projeto dependente da publicidade. Dependente da decisão de quem investe e que pode, de alguma forma, influenciar negativamente as receitas que entram.
Ser jornalista é, acima de tudo, ser alguém com amor pela liberdade, com a responsabilidade sobre aquilo que escreve, que publica. Com obrigação de cruzar informações, confrontar e confirmar as fontes de informação. É alguém que deve saber conquistar e manter a credibilidade do seu nome perante quem o lê, vê, ouve!
Um jornalista não deve ter opinião? Deve, quando assina uma coluna e o assume dessa forma. Mas não deve emitir opinião, ou ocultar factos, quando escreve uma notícia. Há espaço para a opinião dos jornalistas, desde que seja claro para o leitor. Mas um jornalista é, supostamente, alguém informado, e para emitir opiniões deve ter sempre em conta os limites do bom senso. Afinal, escrever num jornal, num site credível, ou até num blogue, não é o mesmo que conversar com os amigos num café.
Não deve servir apenas para "passar a mensagem". Deve ser a sua opinião, como cidadão com acesso a informação e com o poder de chegar às pessoas.
Quem sabe, com o tempo, com união profissional, se consiga voltar a dar ao jornalismo o lugar de destaque que ele merece.
A Internet não é a culpada do que se passa, os media não souberam, ainda, adaptar-se a este novo meio. Falta de visão, de lógica de gestão. De aposta na formação dos profissionais. Foi-se optando pelo mais simples, pelo que dava mais jeito, por enaltecer o "jornalismo do cidadão" (fico com arrepios só de escrever estas duas palavras, porque penso sempre na medicina do cidadão ou na arquitetura do cidadão) em vez de potenciar e fazer crescer os jornalistas.
Hoje em dia, as televisões passam os vídeos caseiros, os jornais publicam as fotos do público com o mesmo destaque que deveriam dar ao trabalho dos jornalistas. Os sites, as televisões, incentivam o envio de fotos e vídeos por parte dos utilizadores. User Generated Content. O termo é válido e, em casos como este, do granizo, ou dos atentados de bruxelas, pode ser mesmo crucial do ponto de vista informativo. Mas perde pelo que está na génese de uma reportagem.
Quem confirma que todas as fotos enviadas, os testemunhos escritos, enviados por email, são, realmente, do granizo que caiu nesse dia? Quem confirma que um email enviado com um depoimento do que "supostamente" viveu como testemunha durante os atentados de Bruxelas não de trata apenas de alguém que está sentado na cadeira ao lado da pessoa que o coloca em destaque?
Este conteúdo gerado pelos utilizadores tem o seu espaço, mas não deve susbstituir, nem sequer ser colocado no mesmo nível do trabalho jornalístico.
Pelo meio ouve-se muitas vezes que "a decisão de edição está entregue a miúdos que sabem qual o melhor título para dar cliques, mesmo que esse título diga tudo menos o que está escrito na notícia. Miúdos que não sabem distinguir informação de entretenimento".
Em parte, é verdade. A maioria dos jornalistas mais antigos (na casa dos 40 e poucos anos, e já são "os velhos", porque em Portugal envelhece-se depressa) resistiram à Internet. Lutaram pelo estatuto do papel. Abdicaram de se atualizar, de perceber as novas tecnologias. Tal como os títulos estão a entregar ao Google e Facebook o ouro, que são os conteúdos, os jornalistas deixaram nas mãos dos inexperientes a definição do jornalismo de Internet.
Os interesses económicos
Durante anos, os interesses de grupos económicos têm sido colocados acima de qualquer lógica de qualidade editorial ou jornalística. O cenário a que chegamos tem uma origem, e será fácil identificá-la. O poder dos media tem sido usado pelo poder económico como forma de dirigir interesses. Ao mesmo tempo que os jornalistas perdem força.
Aquilo que sucedeu com o Diário Económico, com a suspensão da edição impressa, será o menor dos males. É preciso pensar porque se permite que um projeto líder esteja em risco de fechar por más decisões de gestão. Por guerras accionistas. Li, em diversos comentários, que a culpa será também dos jornalistas. Sim, em parte sim, por não irem para o desemprego por fazer frente às questões de pressão, por não terem força nem união para combater aquilo que são as regras de uma profissão mal paga.
Será que se pode dizer que, mesmo perante o atual cenário, os jornalistas do Económico assumiram uma posição de união? Têm manifestado publicamente algumas posições mas,será que o estão a fazer apenas porque a administração já está fraca, sem o suporte da estrutura de lobby que manteve esta gestão e permitiu que chegasse até aqui?
A dúvida que muitos levantam é legítima: vale a pena manter a luta por uma empresa que está a entrar em insolvência? As alternativas não são muito melhores. O mercado não tem capacidade para absorver os 140 trabalhadores do Económico. Nem os cerca de 40 jornalistas irão conseguir trabalho. São poucas as empresas de media a contratar e, as que o fazem, estão a aproveitar recursos de topo com salários baixos e a recibos verdes.
Por isso, vamos todos andando neste mundo moribundo porque, enquanto houver quem ganhe dinheiro, o problema nunca será encarado de frente com união. Ainda existe uma réstia de esperança do lado de quem lê que começa a sentir falta da qualidade informativa. Quem sabe, com o tempo, com união profissional, se consiga voltar a dar ao jornalismo o lugar de destaque que ele merece.
A maior parte dos jornais em papel, pelo menos no que diz respeito a edições diárias, tende em fechar portas. Ouvem-se muitas queixas sobre o Correio da Manhã, mas é o jornal que mais vende em banca e será este, provavelmente, o último projeto a cair, se cair. E, se colocar-mos de lado o estilo tabloide, talvez seja o único jornal a fazer algum jornalismo de investigação em Portugal. Poderá ser levado à ruina se alguém tiver interesse em abafar as notícias publicadas. Se alguém surgir com 27 milhões de euros para comprar o jornal, tal como sucedeu com o Económico, ser líder poderá não ser garantia de nada.
Mas o papel será sempre (pelo menos nos próximos anos) uma fonte de credibilidade que a Internet ainda não tem. Compete aos jornalistas tornarem este meio mais credível, é aqui que estão as pessoas, é aqui que os futuros leitores acedem!
Deixar esse papel nas mãos das redes sociais será contribuir para o extermínio.
A capa da última edição em papel do Diário Económico
O Diário Económico coloca esta sexta-feira nas bancas a última edição em papel. A partir da próxima semana o Económico irá concentrar esforços apenas nas edições online e no canal de televisão. O Administrador do grupo, Gonçalo Faria de Carvalho, anunciou que, a partir de segunda-feira, a edição em papel estaria suspensa.
A decisão, comunicada aos trabalhadores ao final da tarde de quinta-feira por Gonçalo Faria de Carvalho, visivelmente emocionado, tem por base o insucesso do objetivo de venda a um novo investidor.
As graves dificuldades económicas em que o grupo se encontrava, estando os trabalhadores com salários em atraso há vários meses, forçam a decisão do encerramento da versão em papel. Algo que há muito se espera no mundo do jornalismo pois, com o atual cenário e a fuga dos leitores para o online, as vendas e o investimento publicitário têm caído a pique, de forma generalizada, em Portugal mas também a nível internacional.
Com 138 trabalhadores, sendo que a redação é composta por apenas 31 jornalistas, o processo de recuperação deverá passar ainda por uma redução da massa salarial.
Com esta decisão, o administrador do grupo Ongoing, deixou por esclarecer se iria declarar falência da ST&SF, empresa do grupo que detém o Económico e que recentemente apresentou um Processo Especial de Revitalização.
Recorde-se que, no iníco de março, o El País, o maior jornal espanhol, anunciou o fim do papel, que será feito de forma mais suave, ficando a marca focada no digital. De forma geral, mesmo os grandes grupos também estão a sofrer com esta crise da publicidade, tal como ficou claro pelas declarações de Rosa Cullell, responsável da Media Capital, que lançou o desafio a Francisco Pedro Balsemão, para a criação de um algoritmo concorrente ao dos players internacionais. Isto, durante o debate sobre o futuro da comunicação promovido pela IPG Mediabrands.
Esta medida, de manter apenas a versão online, tinha já sido tomada em relação à versão brasileira do Económico (Brasil Econômico), em julho de 2015. Este jornal foi lançado em 2009, pela Ejesa, empresa participada pela Ongoing.
Ao deixar as bancas, o espaço dos jornais de economia fica entregue ao Jornal de Negócios, do grupo Cofina.
De recordar que o Jornal de Negócios começou por ser apenas um jornal digital e só mais tarde avançou para a edição em papel, primeiro semanal e depois diária. Uma decisão tomada devido ao espaço existente, graças à necessidade de pluralidade.
O Diário Económico foi lançado a 30 de Outubro de 1989, sob a direcção de Jaime Antunes, Silvério do Canto e Goulart Machado. Ao fim de quase 27 anos, deixa as bancas, com Raul Vaz como diretor, que está demissionário desde a semana passada.
Tal como se pode ler no título de manchete da primeira edição do Brasil Econômico, a citação de Lula da Silva, que hoje está nas bocas do mundo pelas suspeitas de corrupção, "Quando nasce um jornal a democracia se fortalece". O oposto também é verdade!
Apesar desta decisão, que vai reduzir substancialmente os custos de produção, a empresa ainda precisa de ser recuperada, desconhecendo-se ainda as medidas de gestão a aplicar. A direção interina ficará a cargo de jornalistas do Económico.
De acordo com a comunicação feita aos trabalhadores, Gonçalo Faria de Carvalho assegura que o regresso da edição em papel não está descartada, caso a recuperação da empresa seja um sucesso e o mercado volte a recuperar.
Com 138 trabalhadores, sendo que a redação é composta por apenas 31 jornalistas, o processo de recuperação deverá passar ainda por uma redução da massa salarial.
O dono da Ongoing, Nuno Vasconcellos, foi recentemente criticado pelos trabalhadores depois de colocar no Facebook, as fotos de um jantar de salmão. De acordo com o site institucional da Ongoing, "em 1989, o grupo integrava 25 empresas, empregava 1.500 pessoas e tinha vendas superiores a 20 milhões de contos (cerca de 100 milhões de euros), o que representava 0,2 por cento do produto interno bruto (PIB) português".
Perante a demissão da direção do Diário Económico, o jornal, Televisão e site, ficam numa situação ainda mais complexa. Este sinal da direção, provocou um forte abalo na redação que sente a queda do projeto a qualquer momento. Sem receber salários há mais de dois meses, os cerca de 140 trabalhadores, avançam para a greve. Não porque desistem, porque continuam a trabalhar com o máximo profissionalismo, mas porque têm de tomar alguma forma de pressão para a opinião pública, para os empresários, para os anunciantes.
Os jornalistas, em conjunto com os restantes trabalhadores da empresa (140 no total), têm tentado angariar, junto da massa empresarial, consenso para que, através da publicidade nos meios do Económico, se consiga manter o projeto. O último gesto foi esta carta aberta divulgada nas redes sociais.
A solução encontrada pela administração de Gonçalo Carvalho foi a apresentação de um PER, Processo Especial de Revitalização, que impede, durante um determinado período, que os credores forcem a falência da empresa. Mas é uma solução de recurso, não corresponde a uma entrada de dinheiro que permita fazer face aos compromissos salariais e de dívida.
Os media, a nível mundial, estão a sofrer uma grave crise. Financeira e de identidade. A Internet, o mundo digital, as redes sociais, os novos hábitos de consumo da informação, estão a obrigar os media tradicionais a uma adaptação. Ou melhor, a uma reinvenção.
A "democracia" da Internet provocou a queda abrupta do consumo do jornalismo em papel, da própria televisão. Qual será a receita de sucesso? Podemos abordar alguns exemplos, espalhados pelo mundo, de pequenas (grandes?) conquistas, como o formato buzzfeed (erradamente considerado um meio de comunicação social) ou em Portugal, onde o Observador se apresenta como "o modelo" do novo jornalismo.
A tendência a nível internacional é o foco no digital, encerrando a distribuição em papel.
Quanto aos formatos buzzfeed, creio que pouco mais há a dizer a não ser "vídeos de gatinhos", e associar o sucesso deste projetos ao que têm programas como o Big Brother ou a Quinta das Celebridades. O fenómeno é o mesmo!
Quanto ao Observador, é de aplaudir a forma como o projeto surgiu e se impôe no mercado. Infelizmente, não tenho dados que permitam avaliar mais do que aquilo que a Marketest revela. O mercado de publicidade está agradado com os cerca de 30 milhões de pageviews do projeto inaugurado por David Dinis, e este tem vingado.
O que tem o observador de inovador em relação a um qualquer site (falemos dos que têm um design e usabilidade mais moderno, relevante, mas não crucial) de um outro meio de comunicação social?
Tem um foco exclusivo no digital e uma excelente estratégia de marketing e divulgação dos seus conteúdos. Aliado, claro, a uma equipa comercial focada. Não tem mais, nem melhor conteúdo que alguns meios tradicionais, não tem melhores nem piores jornalistas.
Mas voltemos ao tema concreto que dá mote ao título deste artigo.
Com as contas completamente descontroladas, o Diário Económico sofre porque não consegue fazer face à saída de mão-de-obra qualificada, porque tem os trabalhadores no limite, com salários em atraso, porque a administração não tem suporte, porque a direção se demitiu.
Os erros de gestão dos últimos anos, a falta de uma aposta forte no digital (apesar de serem líderes no segmento económico), faz com que cheguem a esta fase na incerteza da continuidade. Os custos têm de baixar, as receitas de aumentar. É o básico de qualquer negócio. Mas, no caso do Diário Económico (que inclui a edição em papel, a televisão e o site), o dinheiro que entra é amplamente insuficiente para fazer face às despesas.
De acordo com os dados da APCT, cerca de 2000 assinaturas e mais de 3 mil exemplares vendidos em banca, pouco mais dará do que pagar os custos com impressão e distribiuição.
Cortar na massa salarial, ou seja, despedir pessoas, será a única opção numa empresa que está em risco de declarar falência.
Isto terá de acontecer, seja com a atual administração, seja pelas mãos da administração que venha a comprar a empresa. A questão é que, chegados a março de 2016, e após, pelo menos, uma ano de tentativa de venda, nenhuma proposta chega a ser concretizada ou é aceite pela actual administração. Além disso, falta dinheiro para as rescisões necessárias!
O embróglio, de acordo com aquilo que circula nas notícias, está no passivo da empresa. Ninguém quer assumir as dívidas passadas e a administração não quer ficar com elas às costas.
Mas, mais uma vez, qual a solução?
Seria óptimo ter a receita para este projeto mas, sem conhecer a fundo as contas, é difícil delinear as medidas a aplicar. Mesmo assim, arrisco!
A redução da força de trabalho não pode ocorrer na redação onde os jornalistas são já insuficientes para os três produtos. Ao nível da televisão, principalmente, a decisão terá de ser na continuidade, ou no encerramento. O canal tem apenas as receitas dos operadores, que pouco mais paga do que a operação. E, mesmo assim, a meia dúzia de profissionais que fazem o canal estar no ar, estão sem receber salário, tal como os outros.
No caso da televisão, a licença do canal poderá estar em risco em caso de uma interrupção na emissão.
Fazem mal os trabalhadores em deixar de trabalhar, tendo em conta que não recebem? Não, têm todo o direito de o fazer. A questão é: de que adianta deixar a empresa ir para falência? Legalmente, os trabalhadores terão direito a candidatar-se ao subsídeo de desemprego, algo que não será possível de outra forma uma vez que a Ongoing já ocupou as quotas a que tem direito para estes casos.
Por isso, talvez seja este o momento dos empresários portugueses, dos que têm capacidade de investimento, assumirem que podem salvar um projeto editorial líder. Dar este passo, será também defender a pluralidade e a democracia.
A alternativa, sem uma injeção de capital, terá de passar obviamente por um foco no digital, abdicando do papel e do próprio canal de televisão. É este o processo que outros jornais, como o El País, aqui ao lado, em Espanha, estão a preparar.
O papel só faz sentido se as vendas o justificarem. Sendo realistas, isso não irá acontecer porque ninguém quer pagar para ler jornais! E nesse aspeto, no que ao consumo diz respeito, só os leitores podem tomar essa opção.
Não são apenas estes os títulos em risco, é toda a imprensa, todos os meios de comunicação social que estão na incerteza do futuro!
Ao ler a notícia de do Jornal de Negócios, sobre a manifestação de intenções da Impresa e Media Capital para criar em conjunto um "algoritmo" concorrente ao Google e Facebook, fico com alguma esperança que surja a união dos media em Portugal.
A responsável da Media Capital, Rosa Cullell, lançou o desafio a Francisco Pedro Balsemão, para a criação de um algoritmo concorrente ao dos players internacionais. Isto, durante o debate sobre o futuro da comunicação promovido pela IPG Mediabrands.
Mas, será que vamos no caminho certo? O que será esse "algoritmo?" Sinceramente, acredito que a solução não estará em tentar criar algo com um custo praticamente impossível de calcular, e, ainda por cima, para fazer frente, pela "via do código", a dois gigantes com o domínio tecnológico à escala global.
A união, tem de ir no sentido de conseguir, a nível nacional mas também no contexto europeu, criar condições para valorização e proteção do conteúdo. Unir esforços de forma a conquistar o investimento publicitário para o conteúdo e não para os números apresentados por estes gigantes. Já agora, tal como tenho escrito neste blogue, números que são controlados pelas próprias plataformas e nos quais acredita quem quer!
Uma cópia, é uma cópia! E se a fonte original morre, nem a pirataria terá como sobreviver.
Salvar os media, o jornalismo, passa por ter projetos editorialmente fortes, com qualidade, com profissionais que dignificam e respeitam a deontologia e unir esforços para combater a pirataria dos conteúdos.
O fim do papel, anunciado há anos, já chegou. O El País, aqui na vizinha Espanha, é a mais recente baixa no papel. A Internet é o presente, mas as regras que já existem para outras áreas, como a música ou os downloads de filmes de forma ilegal, têm de proteger também o conteúdo. Mais tarde ou mais cedo, será necessário forçar a legislação de forma a combater as estratégias de alguns sites que assentam apenas na cópia do conteúdo produzido pelos meios de comunicação social.
Ter uma redação composta por um grupo de pessoas que se limitam a "picar" as notícias alheias, baseia-se mais em pirataria do que jornalismo. As fontes originais das notícias, do conteúdo, têm o custo de produção, estes sites têm o proveito com origem na excelente estratégia de divulgação nas redes sociais, como o Facebook e Google.
Portanto, o caminho talvez esteja numa conjugação de esforços para conseguir contrariar o panorama de isenções legais que os gigantes internacionais possuem, forçar as entdades reguladoras a impor regras a quem copia as notícias e, em simultâneo, começar a olhar, a sério, para as estratégias no digital.
Francisco Pedro Balsemão, futuro CEO da Impresa, considera os gigantes como "frenemies". "São concorrentes directos mas também são nossos parceiros", afirma, citado pelo negócios.
Os meios de comunicação social precisam de olhar para o Facebook e Google, e outras redes sociais, como ferramentas para angariar tráfego, retirando deles aquilo que podem, sem, no entanto, abdicar da sua autonomia e marcas. Evitar, a todo o custo, oferecer os conteúdos a plataformas que prometem o "El Dorado", como os Instant Articles. Se os meios de comunicação social caem neste erro, estão a dar o o ouro ao bandido!
Onde estão os leitores
O mundo está a mudar. Os hábitos de consumo estão, cada vez mais, inseridos no digital e a informação não é diferente. Os jornais em papel, pelo menos no que respeita aos diários, ficam sem sentido quando as notícias publicadas perdem a validade rapidamente. Afinal, uma boa estratégia digital permite que as notícias sejam dadas, praticamente, em tempo real.
Um país sem uma imprensa forte, pluralista e livre, é um país sem democracia.
Um semanário, com artigos de análise, mais profundos, talvez continue a ter espaço, mas é preciso olhar para a dimensão do mercado e para o investimento publicitário disponível.
Os leitores, que hoje em dia têm contribuído para a queda de alguns dos principais meios, ao previlegiarem a leitura de notícias em sites que copiam, em vez das fontes originais, também precisam de saber escolher e exigir qualidade. Actualmente, não é isso que está a suceder. Lê-se e partilha-se aquilo nos chega mais rapidamente ao Facebook. E o Facebook, mostra o conteúdo de acordo com as regras obscuras do seu algoritmo.
É algo semelhante a comprar um iphone chinês, em vez do iphone original. Pode parecer a mesma coisa, mas, acreditem, não é. Ou ver um filme com um argumento copiado, filmado de forma amadora, em vez do filme original, ou um cover, em substituição da voz original. Pode até ser boa, mas não tem a mesma alma!
Uma cópia, é uma cópia! E se a fonte original morre, nem a pirataria terá como sobreviver.
Os utilizadores precisam de perceber que, para lerem, alguém tem o esforço de escrever. Se não pagam para ler, têm de perceber que é através da publicidade que os meios de comunicação social se financiam. A publicidade, os formatos, não podem ser uma selva, deve haver regras que garantam a qualidade, a usabilidade dos sites. Mas, se ninguém paga pela informação que lê, os meios de comunicação social não podem viver com os adblockers.
Um utilizador que usa estas ferramentas, está a contribuir para a morte dos produtores de informação. E um país sem uma imprensa forte, pluralista e livre, é um país sem democracia.
Por isso, cabe também aos leitores, seja no papel, no digital (onde os aparelhos móveis estão a ganhar terreno), lutar pela defesa da qualidade da informação que consomem. Lutar pelos títulos e marcas editorialmente fortes. Lutar pelos que procuram e redigem a informação e não pelos que copiam, roubam e vendem em bancas que deveriam ser ilegais!
Porque, no final do dia, as regras impostas à comunicação social, às televisões, têm um impacto enorme nos custos. E esse valor não se aplica a quem copia, ou aos operadores dos canais internacionais que inundam o mercado e que competem, diretamente, pelo bolo publicitário!