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O Estado é a solução para resolver o estado do jornalismo?

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Não. O Estado, ao contrário do que questiona, com reservas, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, não é a solução para salvar o jornalismo. É, até, perigoso. O próprio exemplo que o Presidente apresenta (o porte pago) para a imprensa regional, é um dos factos que sustentam esta minha posição. Existe uma enorme dependência do jornalismo regional dos poderes políticos locais.

 

E, obviamente, olhando para aquilo que está a suceder por esse mundo fora, a mão do Estado no jornalismo corre o sério risco de ficar demasiado pesada para a Liberdade de Imprensa e Democracia.

 

Há muitos que continuam a culpar a estratégia da gratuitidade do jornalismo no online. Talvez seja errado e presunçoso afirmar que não. Mas o contrário também é verdade. O maior perigo está no mesmo local onde se poderá encontrar a solução: nos jornalistas.

 

Já o afirmo há muito, acompanhei, desde o início, a euforia que se viveu em Portugal, por dentro, e lá fora, pelo que se foi lendo e visto. O problema maior esteve sempre do lado dos jornalistas que se colocaram à margem do desenvolvimento. Permitiram que as coisas evoluíssem sem a sua intervenção. É um pouco semelhante às pessoas que se recusam a ir votar por discordarem das políticas. Esquecem-se que estão a abdicar do maior poder que o 25 de Abril trouxe a Portugal: o direito a intervir, votar, a contribuir para a escolha e para a solução.

 

Deixar nas mãos (e no voto) dos outros a decisão, retira-nos o poder de queixume tardio. Tal como escreve no Público a minha colega  de curso, Sónia Sapage, "o quarto poder está frustrado, como antevia, em livro, o meu (nosso) antigo professor de Teoria da Notícia Nelson Traquina". Obviamente, concordo. O jornalista não trabalha de graça!

 

Mas eu recordo que, durante o mesmo curso, o professor de Mutação dos Media, Pinto Balsemão, já falava nessa época do jornalista de aeroporto, com capacidade de fazer texto, fotos e vídeo. Foi isso que fiz desde que entrei no mundo da Internet, em 2003. Tracei caminhos, fiz descobertas, passei conhecimento e fui, com consciência, criticado por ceder a esse modo de trabalho. Referindo novamente Rafael Bordalo Pinheiro, a Retórica Parlamentar serve de pouco. É preciso agir.

 

Afinal, diziam alguns quando me viam chegar a uma conferência de imprensa ou em reportagem com tripé, câmara de vídeo e fotografia, microfones, computador para fazer diretos, "estás a roubar o trabalho dos camaradas". Não era assim, não é assim! É preciso adaptar, evoluir e lutar para que o jornalismo se mantenha, na sua essência. Ficar de fora desta evolução é viver na pré-história e esquecer que o problema pode estar antes no formato comumente aceite há anos, com o controlo dos media por grandes grupos económicos.

 

O próprio Público, como se sabe, é deficitário e só a vontade de Belmiro de Azevedo o manteve durante tantos anos. Será que os herdeiros terão a mesma vontade de continuar a sustentar um projeto deficitário (que para eles, empresários, é visto como produto)?

 

O Jornalismo tem de ser dos jornalistas. Independente de poderes de qualquer tipo. Um dia, porque tenho o projeto em espera, talvez seja a altura de colocar em livro muito do que vi nos últimos anos. A forma ligeira como se "abatem" jornalistas e projetos, ou promovem outros e se mantém nas direções sempre os mesmos. Porque será?

 

Mas o foco hoje está na preocupação de Marcelo Rebelo de Sousa. Legítima e sustentada no mesmo dia em que jornais de referência fizeram eco daquilo que é uma verdadeira ameaça ao jornalismo.

 

Os jornalistas permitiram estar a concorrer no mesmo espaço com Youtubers, sites de mentiras (porque recuso juntar na mesma designação mentira e notícia, são palavras incompatíveis).

 

Os jornalistas viram, ao longo dos anos, o camarada do lado ser perseguido e afastaram-se dele como se tivesse lepra. Assistiram, com medo, à limpeza que tem sido feita no jornalismo. E continua. E, quando digo isto, é com a consciência que cada um, no final do mês, precisa de pagar as faturas, alimentar os filhos (que já tiveram tarde porque um jornalista não tem horários e ganha uma miséria). A mim, tentaram despedir-me por fazer frente às pessoas que decidiam no jornal onde estava porque estavam a falhar o pagamento de salários a duas estagiárias. Obviamente, a razão estava do meu lado, fui perseguido, ameaçado, tentaram de tudo e ninguém se impôs para me defender. Obviamente, venci, saí, mas indemnizado. Chegou? Não, porque estas injustiças não têm preço, mas é melhor do que nada. Quem o fez, o protagonista desta atrocidade contra a Liberdade e direitos, dirige atualmente um dos principais jornais portugueses.

 

Mas, então, onde está o Quarto Poder? Perdeu-se, poderão dizer; está aí, afirmo com toda a certeza e confiança na qualidade dos jornalistas que ainda querem resistir, mas precisam do seu salário.

 

A solução ainda virá, o medo que os jornais fizeram ecoar por causa do Artigo 11 e Artigo 13, e que se debruça sobre os direitos de autor, deve ser olhado com atenção. O problema não está em amplificar os receios de um youtuber que, atiçado pelo Google, aproveita o poder que tem para lançar o pânico. Não, a Internet não vai acabar, a mama, sim!

 

E como citei a minha colega Sónia Sapage, volto a pegar no título dela "Queres Fiado? Toma". para dizer que aqui não se trata de fiar. O problema não está se é ou não gratuito, está na falta de confiança que os leitores têm no jornalismo, no total descrédito dos jornalistas. Porque, afinal, aquilo que vivemos hoje com a Internet é que navegamos diariamente numa grande lixeira. Todos e cada um de nós encontra lá algo que diz ser útil em determinado momento.

 

Mas já e tempo de remover o lixo, filtrar, deitar fora o que não presta, queimar, reciclar. Nessa altura, no lugar onde está a lixeira, haverá espaço para nascerem novas ideias, válidas e que geram receitas aos seus criadores.

 

Para quem ainda não percebeu, o Youtube enviou emails a dizer que os canais correm o risco de encerrar por causa dos direitos de autor. Não, não será isso que vai acontecer. O problema é que a Google terá de pagar o devido valor pelos milhões que tem ganho com o trabalho dos outros, a custo zero.

Nota final: Apostei numa ideia, o Faktual.pt é um projecto que pretendo seja de todos os jornalistas, que ajudem a fazê-lo crescer, que o tornem num projecto que seja capaz de gerar salários dignos. Não fiz tudo, apenas coloquei em prática aquilo que está ao meu alcance. O meu contributo, também financeiro, e apelo à união. Se recusei propostas de investidores interessados? Sim, recusei. E se isso for o motivo para falhar, então sei que fiz tudo o que tinha de ser feito.

Os jornalistas, a isenção e a total ausência de opinião

Adeptos celebram conquista do 35º campeonato no Marquês de Pombal

Quantos jornalistas, médicos, comerciantes, estão aqui a celebrar? 

 

Desde sempre, e as regras são claras, que um jornalista deve "a) Exercer a actividade com respeito pela ética profissional, informando com rigor e isenção;". Assim dita a alínea a) do Artigo 14º do Estatuto do Jornalista, publicado no site da Comissão da Carteira Profissional.

 

Já no Código Deontológio, entre outras regras, pode ler-se, logo no primeiro ponto, que "O jornalista deve relatar os factos com rigor e exatidão e interpretá-los com honestidade. Os factos devem ser comprovados, ouvindo as partes com interesses atendíveis no caso. A distinção entre notícia e opinião deve ficar bem clara aos olhos do público."

 

A esta altura, devem estar a questionar-se, porque razão estarei a transcrever estes factos? Surgem a propósito daquilo que hoje, em particular, surge nas redes sociais em relação a jornalistas que felicitam o benfica pela conquista do campenato. É preciso não esquecer que há outros tantos que também dão os parabéns ao Sporting ou ao FC Porto.

 

Mas, o que aqui está em causa é a tentativa de tornar estas manifestações públicas da cor clubística, um direito de qualquer cidadão que vive em Liberdade, numa espécie de clube de pessoas que ajudaram o Benfica a conquistar o campeonato.

 

Antes de mais nada, e tal como está escrito na Lei do jornalista, uma coisa é a redação de notícias e o seu trabalho de cobertura de eventos, outra a sua vida como cidadão. Não está escrito em lado nenhum, e seria ridículo, que um jornalista não pode ter preferências clubísticas, religiosas ou políticas. Já agora, também preferências amorosas.

 

O que não deve suceder é um jornalista publicar trabalhos na imprensa, televisão ou rádio, que violem as regras. Mas um jornalista não está impedido de se manifestar publicamente, como cidadão. E, apesar de tudo, um jornalista, pela responsabilidade que tem, dev ser moderado nos comentários que faz, pode dizer, mas sem apelar a violência, ou ofender os outros, por exemplo. Algo que defendo que todos deveriam fazer!

Que os árbitros erram, não restam dúvidas, que o fazem porque foram pagos para tal, recuso acusar sem provas.

Vejamos, por exemplo, o caso de Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República Portuguesa. Todos conhecem as suas preferências clubísticas, não está impedido de as mostrar. No desempenho das suas funções deve manter a isenção devida e tratar o tema com o respeito que todos os cidadãos merecem.

 

O mesmo se passa com os jornalistas. No seu trabalho devem ser isentos mas nada os impede de terem uma vida social ativa e participativa. Como tal, considero que podem festejar, ou manifestar a sua tristeza, pelas vitórias ou derrotas dos seus clubes.

 

A título de esclarecimento, não estou a defender as situações em que a imprensa, as rádios ou televisões, eventualmente, publiquem artigos tendenciosos que violem as regras. Aí, têm de ser as instituições reguladoras a intervir, através da análise e punição dos prevaricadores.

 

Estou sim a defender que um jornalista é um cidadão, e tem direito à sua opinião. Aliás, está previsto na lei que o jornalista pode escrever opinião desde que seja claro para o leitor que se trata de um artigo opinativo, tal como descrito no ponto 1 do Código Deontológico.

 

Outro exemplo, os médicos. Podem nem gostar de um pedófilo, ou de um assassino. Mas se o tiverem na mesa de operações, têm a responsabilidade de tudo fazer para lhe salvar a vida. Podem dizer publicamente que pessoas assim deviam perder a vida? Pode um médico, adepto do Benfica, recusar tratar em condições um do Sporting? Podem, mas a sua obrigação profissional, o seu juramento, obriga-o a respeitar regras.

 

Esta moda, que tem crescido nos últimos anos, despromovendo a classe jornalística, em parte, tem um fundo de responsabilidade dos própios jornalistas. Ou melhor, de algumas pessoas que se dizem jornalistas e que têm dominado as redações.

Será errado um jornalista assumir as suas preferências clubísticas? 

A precária situação profissional dos jornalistas, que se mantêm sob a constante ameaça de despedimento, a maioria está anos sem fim a recibos verdes, com salários abaixo dos 900 euros, permite que tal suceda. Quando se fala de pressões, de perseguições, talvez fosse bom olhar em primeiro lugar para "o que se passa, de verdade, nas redações".

 

Vou deixar este tema para outro dia porque obriga a uma refelxão mais profunda. Hoje, falamos da liberdade que um cidadão, que por acaso até exerce a profissão de jornalista, tem de se exprimir publicamente.

 

Mesmo sendo um jornalista desportivo? Sim, mesmo sendo um jornalista que habitualmente faz a cobertura de eventos desportivos. Sempre que abordo este tema, em conversas, é incontornável, fala-se do jornal A Bola, da sua "suposta" ligação ao Benfica. Vou deixar de lado qualquer comentário ao tema, serve apenas para referir que tenho amigos, sportinguistas ferrenhos, que compram este jornal relegiosamente. Depois criticam, falam do "benfiquismo" dos artigos. Mas compram porquê, questiono? "Não consigo deixar de comprar, é um vício". Eu acrescento, é a paixão do futebol. Onde um lê algo negativo, outro revê-se por inteiro.

 

A bem da imprensa, digo, um vício bom, comprar jornais. Mas que há coisas menos claras, não restam dúvidas. Agora, são estas notícias que fazem ganhar campeonatos? Os jogos não se fazem dentro de campo? Fazem, e com tudo o que isso implica. Arbitragem incluída.

 

Para mim, aquilo que é mais grave, é o facto das pessoas apenas lerem aquilo que defino como "as cenas sensacionalistas". Desde 2003 que trabalho no digital, onde se consegue medir, ao segundo, aquilo que as pessoas lêm. Há mais de 12 anos que sei que as pessoas gostam e valorizam os títulos que falam de acidentes, mortes, violações, Benfica, Sporting, Porto (no caso dos clubes, normalmente por esta ordem).

 

Se eu fizer uma notícia a falar do Belenenses, terei pouco sucesso. Talvez seja lido pelo meu amigo João. Meia dúzia de cliques. A mesma notícia, mas com Benfica ao barulho, tem um impacto muito superior. E isto sucede porquê? Porque é aquilo que as pessoas querem ler e valorizam. E, acreditem, não serão apenas os benfiquistas a ler...

 

É semelhante ao fenómeno da RTP2: todos dizem que é relevante, como serviço público, mas ninguém vê. Ou como o Big Brother e programas idênticos, todos criticam, mas as audiências mostram que está tudo pregado ao ecrãn.

 

Por isso, quando vejo nas redes sociais críticas, até de alguns jornalistas que se dizem "envergonhados", pelo facto de haver outros que colocam fotos a celebrar com o clube da sua preferência, pergunto. Qual é o mal, desde que não estejam a publicar isso como trabalho ou não deixem essas preferências influenciar os seus artigos?

 

Um jornalista não vota? Vota. E mesmo sendo um jornalísta que acompanha temas políticos ou de economia, tem a obrigação de manter a isenção quando escreve um artigo. Agora, sejamos claros, um jornalista é um ser humano e é quase impossível falar de uma isenção a 100 por cento. Nem que essa "suposta falta de isenção" seja feita pela relevância que dá a um tema. Convencionou-se chamar a isso, opção editorial.

 

Para os que me acompanham no que escrevo nos três blogues que alimento, sabem que, mesmo na opinião que exprimo na escrita, tento manter as coisas com um nível sério. Mesmo quando falo de política, tenho sempre presente que, acima de tudo, gostava de ter políticos honestos, sejam de esquerda ou direita.

A isenção é algo complicado de definir para um ser humano. Por isso, quando um jornalista escreve um artigo, deve limitar-se aos factos e deixar para textos de opinião a sua visão pessoal. 

Naquilo que me diz respeito, prefiro manter as coisas de forma clara. Prefiro saber as inclinações pessoais de um jornalista para, quando ler o que escreve, fazer os devidos filtros. Mas há algo que, como profissional, para mim é sagrado. Honestidade dos factos. Essa deve ser a linha que um jornalista jamais deve ultrapassar.

 

Vamos aos factos. O Benfica mereceu conquistar o campeonato? Os factos dizem que sim. Teve mais pontos, bateu até rocorde de pontos (88), do que o Sporting.

 

Houve casos de jogo, penaltis por assinalar? Houve, também é um facto. Mas eu, como jornalista, não possuo dados que me permitam acusar árbitros. Sabemos, pelas repetições das imagens televisivas, que houve penaltis por assinalar ou outros que não existiram, de facto. Mas é quase impossível dizer que o árbitro viu e decidiu ignorar. A título de experiência, porque eu já a fiz, convido qualquer um a colocar-se em campo, num jogo, no papel do árbitro e a decidir dezenas de situações em simultâneo. É impossível ver tudo. Basta estar posicionado um metro mais à frente ou mais atrás para ser impossível saber se a bola passou ou não a linha, que o jogador estava ou não fora de jogo, que a falta existiu e que foi dentro ou fora da área.

 

Mesmo com as imagens de televisão, muitas vezes, continua a dúvida. Por isso, continuamos a alimentar a paixão com os casos de jogo. A culpar os árbitros. Que eles erram, não restam dúvidas, que o fazem porque foram pagos para tal, recuso acusar sem provas.

 

Por isso, quando se fala que uma notícia influenciou o resultado de um jogo, recordo-me sempre dos "mind games" de Mourinho. Cabe, também, aos treinadores, manter os jogadores focados. Cabe aos presidentes dos clubes a responsabilidade de zelarem pela verdade desportiva e por um bom ambiente nos estádios. E não fazerem aquilo que habitualmente fazem que se reduz à inflamação dos adeptos que leva a confrontos desnecessários. Que impede que eu, como adepto, arrisque levar a minha filha a assistir a um jogo de futebol porque no fundo sei que a vou colocar em risco de vida.

 

Como cidadão, como adepto, posso comentar, opinar. Dizer que o Benfica venceu este campeonato até com alguma sorte, depois do arranque mal conseguido. Posso até comentar que Jorge Jesus pagou a arrogância das suas declarações. Mas, como jornalista, devo manter as coisas ao nível dos factos. 

 

Pior são os que se escondem, camuflados. Os que criam factos, manipulam. Mas, como já disse, cabe às entidades reguladoras estarem atentas e agir como manda a lei.

 

Resta apenas terminar com a observação que ontem me assolou enquanto voltava, de bicicleta, do parque infantil com a minha filha: A crise acabou, a julgar pela quantidade de gente que andou a queimar combustível, na véspera de mais uma aumento deste líquido "precioso".

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Os media estão a viver na era de "The Walking Dead"

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A crise que afeta os media portugueses é como um vírus que ocupa praticamente todo o planeta. Por muito que se procurem culpados este é um fenómeno ao nível do que se representa na série de ficção "The Walking Dead".

 

Antes de mais, convém dizer que a culpa não morre apenas na Internet. Aliás, a título de esclarecimento prévio, este meio é valioso e tem sido ignorado pela gestão das empresas de media.

 

No entanto, a Internet lançou um vírus que apenas ajuda a propagar os chamados "conteúdos virais". Vídeos de pessoas a bater com a cabeça numa parede, um acidente brutal, um gatinho a saltar de uma bancada de cozinha e a cair dentro de uma panela com água quente, dois homens da construção civil a trabalhar de forma ignóbil (leia-se, provavelmente porque acharam que ao fazer esta figura parva estavam a ser engraçados) que acabaram por ser gozados como pessoas sem o mínimo sentido de realidade. Vale tudo!

 

Não se fica apenas pelos vídeos. Os títulos enganadores, os textos mal escritos, copiados, muitas vezes, são "valorizados" por quem lê. Tornam-se virais porque os "algoritmos" das redes sociais assim o definem. São os conteúdos que apelam ao "voyeurismo", o mesmo fenómeno que nos faz parar para ver um acidente, bloqueando o trânsito.

 

Torna-se viral porque os próprios media abdicaram de lutar pela qualidade. Foram atingidos pelo vírus e, eles próprios, na ânsia de conquistar mais cliques, ajudam a propagar estes conteúdos. Não estão a fazer um bom serviço. Nem a eles, nem ao público, que deveria ser educado com conteúdo de qualidade.

 

Do ponto de vista de gestão, muitos dirão que não compete aos media educar o público. Se querem ver novelas, a grelha das televisões enche-se de novelas. Com ou sem qualidade.

 

E isto sucede porque, em plena guerra contra o vírus, contra a desgraça e fim eminente de uma classe profissional, em vez de união, os media abatem-se uns aos outros. Um parelo com a série da FOX onde, os poucos humanos sobreviventes, os que ainda não se tornaram zombies, optam por se matar em vez de se unirem, pela sobrevivência da espécie.

 

Esta será, talvez, uma das séries mais parvas que existe, mas tem seguidores fiéis. Eu, pecador me confesso. Mais do que as cenas sanguinárias, existe na génese do argumento toda uma análise sociológica daquilo que somos como humanos.

O que sucederia se todos os grandes jornalistas, focando o tema em Portugal, se juntassem para fazer um projeto editorialmente forte, isento, sem ligações económicas ou políticas.

A cada episódio não espero nada mais do que ver Rick e o seu grupo estoirar a cabeça dos "walkers", mas anseio pelo desfecho sociológico. Pelas relações entre os humanos que, em situações de crise, pensam apenas em si e esquecem que, se unirem esforços, podem ser mais fortes. Lutam e desperdiçam alimentos. Lutam e morrem às mãos de pessoas que também fogem aos perigos. Fecham as portas a quem, desesperado, procura abrigo e refúgio. Não é assim tão longe da realidade. Quando vejo o que está a suceder com a crise dos refugiados sírios, imagino cenas ao estilo "The Walking Dead".

 

O mesmo se passa nos media portugueses. Não digo que isso aconteça ao nível dos jornalistas, dos poucos que ainda pensam a profissão, com rigor, deontologia, sentido de responsabilidade e respeito pelos leitores. Mas há muitos anos que sucede com quem decidiu que o jornalismo deveria servir os interesses de alguns e não a liberdade de expressão e a democracia.

 

Nas redações, pratica-se a auto-censura. Quase nem é necessário haver um diretor "mandado" a bloquear ou a encaminhar a escrita em determinado sentido. O sentido de salvação do lugar, do emprego, do salário precário ao final do mês, na maioria dos casos a recibos verdes, sobrepõe-se a tudo isto. Mesmo os históricos que ainda estão nas redações, sentem o peso da censura. Dali, só a reforma!

 

Nas redações também há profissionais exemplares, em todas elas, que não crescem. Muitos, os mais novos, sem a possibilidade de aprender com a memória de gerações anteriores. Crescem e potenciam este vírus. Sabem como entrar na corrente do algoritmo, muitas vezes sem pensar no erro.

 

Por essa razão, nas redações falta memória. Falta quem ensine às novas gerações como se faz jornalismo a sério. Esses "professores", que ensinam mais do que nas universidades, estão afastados. São os incómodos, os que questionam mas que, no fim do dia, também se mantêm de costas voltadas.

 

O que sucederia se todos os grandes jornalistas, focando o tema em Portugal, se juntassem para fazer um projeto editorialmente forte, isento, sem ligações económicas ou políticas. Sem diretores "nomeados", sem os prussianos que não se revoltam.

 

Alguém iria pagar para ler o que fosse publicado? Ou voltamos ao tema de base: vai ser um projeto dependente da publicidade. Dependente da decisão de quem investe e que pode, de alguma forma, influenciar negativamente as receitas que entram.

 

Ser jornalista é, acima de tudo, ser alguém com amor pela liberdade, com a responsabilidade sobre aquilo que escreve, que publica. Com obrigação de cruzar informações, confrontar e confirmar as fontes de informação. É alguém que deve saber conquistar e manter a credibilidade do seu nome perante quem o lê, vê, ouve!

 

Um jornalista não deve ter opinião? Deve, quando assina uma coluna e o assume dessa forma. Mas não deve emitir opinião, ou ocultar factos, quando escreve uma notícia. Há espaço para a opinião dos jornalistas, desde que seja claro para o leitor. Mas um jornalista é, supostamente, alguém informado, e para emitir opiniões deve ter sempre em conta os limites do bom senso. Afinal, escrever num jornal, num site credível, ou até num blogue, não é o mesmo que conversar com os amigos num café.

 

Não deve servir apenas para "passar a mensagem". Deve ser a sua opinião, como cidadão com acesso a informação e com o poder de chegar às pessoas.

 Quem sabe, com o tempo, com união profissional, se consiga voltar a dar ao jornalismo o lugar de destaque que ele merece.

A Internet não é a culpada do que se passa, os media não souberam, ainda, adaptar-se a este novo meio. Falta de visão, de lógica de gestão. De aposta na formação dos profissionais. Foi-se optando pelo mais simples, pelo que dava mais jeito, por enaltecer o "jornalismo do cidadão" (fico com arrepios só de escrever estas duas palavras, porque penso sempre na medicina do cidadão ou na arquitetura do cidadão) em vez de potenciar e fazer crescer os jornalistas.

  

Hoje em dia, as televisões passam os vídeos caseiros, os jornais publicam as fotos do público com o mesmo destaque que deveriam dar ao trabalho dos jornalistas. Os sites, as televisões, incentivam o envio de fotos e vídeos por parte dos utilizadores. User Generated Content. O termo é válido e, em casos como este, do granizo, ou dos atentados de bruxelas, pode ser mesmo crucial do ponto de vista informativo. Mas perde pelo que está na génese de uma reportagem.

 

Quem confirma que todas as fotos enviadas, os testemunhos escritos, enviados por email, são, realmente, do granizo que caiu nesse dia? Quem confirma que um email enviado com um depoimento do que "supostamente" viveu como testemunha durante os atentados de Bruxelas não de trata apenas de alguém que está sentado na cadeira ao lado da pessoa que o coloca em destaque?

 

Este conteúdo gerado pelos utilizadores tem o seu espaço, mas não deve susbstituir, nem sequer ser colocado no mesmo nível do trabalho jornalístico.

 

Pelo meio ouve-se muitas vezes que "a decisão de edição está entregue a miúdos que sabem qual o melhor título para dar cliques, mesmo que esse título diga tudo menos o que está escrito na notícia. Miúdos que não sabem distinguir informação de entretenimento".

 

Em parte, é verdade. A maioria dos jornalistas mais antigos (na casa dos 40 e poucos anos, e já são "os velhos", porque em Portugal envelhece-se depressa) resistiram à Internet. Lutaram pelo estatuto do papel. Abdicaram de se atualizar, de perceber as novas tecnologias. Tal como os títulos estão a entregar ao Google e Facebook o ouro, que são os conteúdos, os jornalistas deixaram nas mãos dos inexperientes a definição do jornalismo de Internet.

 

Os interesses económicos

Durante anos, os interesses de grupos económicos têm sido colocados acima de qualquer lógica de qualidade editorial ou jornalística. O cenário a que chegamos tem uma origem, e será fácil identificá-la. O poder dos media tem sido usado pelo poder económico como forma de dirigir interesses. Ao mesmo tempo que os jornalistas perdem força.

 

Aquilo que sucedeu com o Diário Económico, com a suspensão da edição impressa, será o menor dos males. É preciso pensar porque se permite que um projeto líder esteja em risco de fechar por más decisões de gestão. Por guerras accionistas. Li, em diversos comentários, que a culpa será também dos jornalistas. Sim, em parte sim, por não irem para o desemprego por fazer frente às questões de pressão, por não terem força nem união para combater aquilo que são as regras de uma profissão mal paga.

 

Será que se pode dizer que, mesmo perante o atual cenário, os jornalistas do Económico assumiram uma posição de união? Têm manifestado publicamente algumas posições mas,será que o estão a fazer apenas porque a administração já está fraca, sem o suporte da estrutura de lobby que manteve esta gestão e permitiu que chegasse até aqui?

 

A dúvida que muitos levantam é legítima: vale a pena manter a luta por uma empresa que está a entrar em insolvência? As alternativas não são muito melhores. O mercado não tem capacidade para absorver os 140 trabalhadores do Económico. Nem os cerca de 40 jornalistas irão conseguir trabalho. São poucas as empresas de media a contratar e, as que o fazem, estão a aproveitar recursos de topo com salários baixos e a recibos verdes.

 

Por isso, vamos todos andando neste mundo moribundo porque, enquanto houver quem ganhe dinheiro, o problema nunca será encarado de frente com união. Ainda existe uma réstia de esperança do lado de quem lê que começa a sentir falta da qualidade informativa. Quem sabe, com o tempo, com união profissional, se consiga voltar a dar ao jornalismo o lugar de destaque que ele merece.

 

A maior parte dos jornais em papel, pelo menos no que diz respeito a edições diárias, tende em fechar portas. Ouvem-se muitas queixas sobre o Correio da Manhã, mas é o jornal que mais vende em banca e será este, provavelmente, o último projeto a cair, se cair. E, se colocar-mos de lado o estilo tabloide, talvez seja o único jornal a fazer algum jornalismo de investigação em Portugal. Poderá ser levado à ruina se alguém tiver interesse em abafar as notícias publicadas. Se alguém surgir com 27 milhões de euros para comprar o jornal, tal como sucedeu com o Económico, ser líder poderá não ser garantia de nada.

 

Mas o papel será sempre (pelo menos nos próximos anos) uma fonte de credibilidade que a Internet ainda não tem. Compete aos jornalistas tornarem este meio mais credível, é aqui que estão as pessoas, é aqui que os futuros leitores acedem!

Deixar esse papel nas mãos das redes sociais será contribuir para o extermínio.

A solução dos media, está no "algoritmo"?

A incerteza que paira sobre os títulos em papel

 Não são apenas estes os títulos em risco, é toda a imprensa, todos os meios de comunicação social que estão na incerteza do futuro!

 

Ao ler a notícia de do Jornal de Negócios, sobre a manifestação de intenções da Impresa e Media Capital para criar em conjunto um "algoritmo" concorrente ao Google e Facebook, fico com alguma esperança que surja a união dos media em Portugal.

 

A responsável da Media Capital, Rosa Cullell, lançou o desafio a Francisco Pedro Balsemão, para a criação de um algoritmo concorrente ao dos players internacionais. Isto, durante o debate sobre o futuro da comunicação promovido pela IPG Mediabrands.

 

Mas, será que vamos no caminho certo? O que será esse "algoritmo?" Sinceramente, acredito que a solução não estará em tentar criar algo com um custo praticamente impossível de calcular, e, ainda por cima, para fazer frente, pela "via do código", a dois gigantes com o domínio tecnológico à escala global.

Será possível criar um algoritmo que mostre exatamente aquilo que cada um de nós quer ver?

 

A união, tem de ir no sentido de conseguir, a nível nacional mas também no contexto europeu, criar condições para valorização e proteção do conteúdo. Unir esforços de forma a conquistar o investimento publicitário para o conteúdo e não para os números apresentados por estes gigantes. Já agora, tal como tenho escrito neste blogue, números que são controlados pelas próprias plataformas e nos quais acredita quem quer!

Uma cópia, é uma cópia! E se a fonte original morre, nem a pirataria terá como sobreviver. 

Salvar os media, o jornalismo, passa por ter projetos editorialmente fortes, com qualidade, com profissionais que dignificam e respeitam a deontologia e unir esforços para combater a pirataria dos conteúdos.

 

O fim do papel, anunciado há anos, já chegou. O El País, aqui na vizinha Espanha, é a mais recente baixa no papel. A Internet é o presente, mas as regras que já existem para outras áreas, como a música ou os downloads de filmes de forma ilegal, têm de proteger também o conteúdo. Mais tarde ou mais cedo, será necessário forçar a legislação de forma a combater as estratégias de alguns sites que assentam apenas na cópia do conteúdo produzido pelos meios de comunicação social.

 

Ter uma redação composta por um grupo de pessoas que se limitam a "picar" as notícias alheias, baseia-se mais em pirataria do que jornalismo. As fontes originais das notícias, do conteúdo, têm o custo de produção, estes sites têm o proveito com origem na excelente estratégia de divulgação nas redes sociais, como o Facebook e Google.

 

Portanto, o caminho talvez esteja numa conjugação de esforços para conseguir contrariar o panorama de isenções legais que os gigantes internacionais possuem, forçar as entdades reguladoras a impor regras a quem copia as notícias e, em simultâneo, começar a olhar, a sério, para as estratégias no digital. 

 

Francisco Pedro Balsemão, futuro CEO da Impresa, considera os gigantes como "frenemies". "São concorrentes directos mas também são nossos parceiros", afirma, citado pelo negócios.

Os meios de comunicação social precisam de olhar para o Facebook e Google, e outras redes sociais, como ferramentas para angariar tráfego, retirando deles aquilo que podem, sem, no entanto, abdicar da sua autonomia e marcas. Evitar, a todo o custo, oferecer os conteúdos a plataformas que prometem o "El Dorado", como os Instant Articles. Se os meios de comunicação social caem neste erro, estão a dar o o ouro ao bandido!

 

Onde estão os leitores

O mundo está a mudar. Os hábitos de consumo estão, cada vez mais, inseridos no digital e a informação não é diferente. Os jornais em papel, pelo menos no que respeita aos diários, ficam sem sentido quando as notícias publicadas perdem a validade rapidamente. Afinal, uma boa estratégia digital permite que as notícias sejam dadas, praticamente, em tempo real.

Um país sem uma imprensa forte, pluralista e livre, é um país sem democracia. 

Um semanário, com artigos de análise, mais profundos, talvez continue a ter espaço, mas é preciso olhar para a dimensão do mercado e para o investimento publicitário disponível.

 

Os leitores, que hoje em dia têm contribuído para a queda de alguns dos principais meios, ao previlegiarem a leitura de notícias em sites que copiam, em vez das fontes originais, também precisam de saber escolher e exigir qualidade. Actualmente, não é isso que está a suceder. Lê-se e partilha-se aquilo nos chega mais rapidamente ao Facebook. E o Facebook, mostra o conteúdo de acordo com as regras obscuras do seu algoritmo.

 

É algo semelhante a comprar um iphone chinês, em vez do iphone original. Pode parecer a mesma coisa, mas, acreditem, não é. Ou ver um filme com um argumento copiado, filmado de forma amadora, em vez do filme original, ou um cover, em substituição da voz original. Pode até ser boa, mas não tem a mesma alma!

Uma cópia, é uma cópia! E se a fonte original morre, nem a pirataria terá como sobreviver.

 

Os utilizadores precisam de perceber que, para lerem, alguém tem o esforço de escrever. Se não pagam para ler, têm de perceber que é através da publicidade que os meios de comunicação social se financiam. A publicidade, os formatos, não podem ser uma selva, deve haver regras que garantam a qualidade, a usabilidade dos sites. Mas, se ninguém paga pela informação que lê, os meios de comunicação social não podem viver com os adblockers.

 

Um utilizador que usa estas ferramentas, está a contribuir para a morte dos produtores de informação. E um país sem uma imprensa forte, pluralista e livre, é um país sem democracia.

 

Por isso, cabe também aos leitores, seja no papel, no digital (onde os aparelhos móveis estão a ganhar terreno), lutar pela defesa da qualidade da informação que consomem. Lutar pelos títulos e marcas editorialmente fortes. Lutar pelos que procuram e redigem a informação e não pelos que copiam, roubam e vendem em bancas que deveriam ser ilegais!

 

Porque, no final do dia, as regras impostas à comunicação social, às televisões, têm um impacto enorme nos custos. E esse valor não se aplica a quem copia, ou aos operadores dos canais internacionais que inundam o mercado e que competem, diretamente, pelo bolo publicitário!

Artigos instantâneos no Facebook, a partir de abril para todos os editores

Instant Articles Facebook

 

O Facebook anunciou que vai abrir a todos os editores a ferramenta de Instante Articles. A data pré-anunciada é 12 de abril, no decorrer da Facebook Developer Conference. Para quem tem seguido o que escrevo, sabe que considero este processo mais uma ameaça aos órgãos de comunicação social que, perante a euforia de números, pode vir a apostar as fichas na rede social em detrimento dos investimentos nos seus sites próprios.

 

Já o disse aqui e repito, se o Facebook quer conteúdos, porque não gasta dinheiro na sua produção, ou paga por eles? Porque, no final do dia, esta rede social, tal como o Google ou outras semelhantes, concorrem de forma desleal nos mercados publicitários ("A" fonte de receita dos media, porque ninguém paga para ler, ver ou ouvir conteúdos).

 

Não têm as obrigações dos meios de comunicação social portugueses (focando o tema no nosso retângulo, mas isto sucede também noutras latitudes) e uma grande parte das verbas que recebem passam ao lado de taxas e impostos.

Jornais e jornalistas tendem a olhar apenas para o seu universo próximo, muitas vezes ignorando aquilo que se passa na redação da concorrência. Fazem mal. Ao deixarem de agir, estão apenas a adiar que o mesmo lhes suceda.

Mantenho o que já disse sobre estes "artigos instantâneos" no ano passado. Nada mudou desde então, a não ser a falta de entusiasmo dos órgãos de comunicação social em "oferecer" ao Facebook o seu conteúdo relevante, permitindo à empresa de Zuckerberg registar dados e ter um controlo sobre tudo o que for publicado.

E, a bem da saúde e futuro dos media, espero que os órgãos de comunicação social mantenham os pés assentes na terra.

 

 

Há, ainda, muitas perguntas sem resposta. Ao nível dos dados, até que ponto os órgãos de comunicação social vão ter acesso a estatísticas realmente interessantes? E, no que respeita ao tipo de conteúdos, todos sabem que o FB faz restrições, no entender de alguns, aleatórias. Conteúdos da playboy, por exemplo, serão vedados? Depois, a tal incerteza sobre as decisões do algoritmo do Facebook. Irá Zuckerberg dar relevância ao conteúdo "viral" ou à qualidade? E teremos de pagar, se queremos que o conteúdo ganhe alguma relevância e chegue, pelo menos, à teia de ligações da nossa página?

 

O Facebook insiste em deixar estas e outras questões sem resposta. Zuckerberg acredita que a euforia pelos mais de mil milhões de utilizadores diários no Facebook vai levar os jornais e jornalistas a colocar na rede o seu conteúdo, na esperança de o monetizar. 

 

Ao fazerem isto, será a estratégia errada. Os meios de comunicação social devem usar esta rede para divulgar o seu conteúdo mas de forma a angariar tráfego para os seus próprios sites e plataformas. É aqui que dominam os números e a publicidade angariada. Esta seria a típica relação "win-win".

 

Em todo o mundo, os jornais estão a sofrer um rude golpe e o mais certo será o encerramento de muitos títulos, pelo menos em papel. Este processo já começou, o The Independent é a mais recente baixa, e não tardará muito para que se multiplique e chegue a Portugal. Os anunciantes, única fonte de receita (digna de registo) dos media, estão a fugir para o digital onde Google e Facebook levam a maior fatia. E, não estarei a dizer nada de novo, sem gastarem um cêntimo na produção de conteúdo. Pior, escapando a regras às quais os meios de comunicação social estão sujeitos. E, atenção, levam uma fatia de publicidade que, muitas vezes, é mesmo desviada da televisão para o digital.

 

Por isso, e voltando ao caso português, que me diz mais respeito, será urgente que, no meio da confusão em que os meios de comunicação social vivem, haja união. Não vão sobreviver todos, mas os poucos que ficam têm de se unir se querem sobreviver.  

Jornais e jornalistas tendem a olhar apenas para o seu universo próximo, muitas vezes ignorando aquilo que se passa na redação da concorrência. Fazem mal. Ao deixarem de agir, estão apenas a adiar que o mesmo lhes suceda.

 

Sempre que uma redação sofre um golpe, em vez de pensarem, ainda bem que foram eles e não nós, pensem melhor!

 

O jornalismo é crucial para a Liberdade de Expressão e a pluralidade garantia da democracia. As apostas no digital serão incontornáveis e o papel apenas para quem quer pagar por ele. Cabe às redações unirem esforços para encontrar soluções viáveis, quem sabe, em conjunto com as administrações.

 

E, quem pensa que os jornalistas ganham demais, está completamente alheado da realidade. Em média, um jornalista ganha abaixo de mil euros por mês. Aliás, dirão muitos, mil euros é um ordenado muito bom! As administrações, as mais justas, sabem bem que, apesar das excepções, os jornalistas ganham mal e estão décadas sem ser aumentados. Mas, infelizmente, também é uma realidade, não têm grande margem para aumentar os salários.

 

Depois, claro, também compete aos utilizadores selecionarem aquilo que querem ver. Sempre que ouço esta afirmação, tremo!

Se a polícia entra nas feiras para apreender material contrafeito e punir aqueles que ganham dinheiro à conta do esforço e trabalho dos outros, porque razão o mesmo não deve ser feito ao nível dos conteúdos? Não, a decisão não deve ficar apenas nas mãos dos utilizadores. Tem de haver regras claras para punir os sites que se multiplicam e usam e abusam dos conteúdos de terceiros e que, com estratégias mais ou menos bem montadas (justiça lhes seja feita) ganham mais dinheiro do que os meios de comunicação social que produzem conteúdos relevantes de qualidade.

 

 E ganham à conta dos anunciantes que continuam a olhar apenas para números (reais???) que enchem folhas de cálculo e dashboards de analytics bonitos, recheados de gráficos! E a qualidade do conteúdo, é medida?

 

Talvez haja quem, do ponto de vista de usabilidade defenda a conveniência de tudo ser feito na mesma plataforma em benefício da experiência de utilização. Até pode ser verdade, mas isso é um engano irá ser mais um contributo para o encerramento da maioria das redações.

Seria ridículo dizer que tudo é mau nesta plataforma de artigos instantâneos. O que está em causa é a tentativa do Facebook continuar a ganhar milhões graças ao trabalho dos meios de comunicação social que se vêem obrigados a fechar portas porque quem ganha é a plataforma social!  

O caminho a percorrer ainda é longo mas será, certamente, precipitado com a crise paira sobre os media. Porque, quando a qualidade falhar, onde vão todos estes sites roubar conteúdo?

 

É necessário dizer mais?

 

A aposta das marcas 

Para os que leram até aqui, é preciso não esquecer que o Facebook vai abrir também esta plataforma às marcas que, desta forma, podem publicar conteúdo diretamente. E todas estão prontas para o fazer. Como disse anteriormente, as marcas continuam a investir milhões nas redes sociais (em especial no Facebook) e Google. Dificilmente vão mudar a agulha perante o potencial de público-alvo presente nestas plataformas. Mas, como já se sabe, e tem sido demonstrado por diversos estudos, as conversões são muito baixas.

Como as marcas estão a começar a retirar investimento ao FB, esta plataforma surge como uma arma poderosa para atrair estratégias de Content Marketing. A aposta de Zuckerberg assenta no "vício" dos utilizadores que, quando começarem a ler artigos nesta plataforma, vão deixar de ir a outros locais. 

 

Por isso, uma das grandes bandeiras que o FB acena quando fala dos "artigos instantâneos" baseia-se na rapidez com que estes abrem, em comparação com os links colocados na rede social e que remetem para o conteúdo em qualquer site.

 

Para quem duvida que o FB vai previligiar os "artigos instantâneos", vejam o que sucedeu com os vídeos publicados diretamente, em prejuízo dos vídeos de outras plataformas como, por exemplo, Youtube.

 

No que respeita ao Content Marketing, que as marcas têm produzido ou "comprado" aos órgãos de comunicação social, o Facebook apresenta-se como uma plataforma que reúne massa crítica oferecendo aquilo que não têm nos seus sites, tráfego. Mas isto terá um custo para as marcas.

 

Produzindo, ou comprando conteúdo aos próprios media, as marcas vão tentar aproveitar ao máximo os 1.5 mil milhões de utilizadores ativos diariamente no Facebook. A questão que se levanta para os marketeers é outra: irão conseguir canalizar tráfego para os seus sites, colocando os utilizadores/clientes no seu funil de compra?

 

Estratégias e criatividade não devem faltar, mas aquela que se prepara para ser a mais usada, assenta na publicidade à volta do conteúdo. Mais uma vez!

Olhando para o que se passou nos últimos anos, o Facebook vai ganhar muito dinheiro com esta estratégia e tanto as marcas como os meios de comunicação social devem estar atentos e preparados para o que aí vem. Entre vantagens e desvantagens, só será benéfico para quem se relaciona com o Facebook, se conseguir tirar partido desta estratégia, leia-se, registar um retorno significativo do investimento feito!

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